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A história de Elio, jovem estudante, durante as férias escolares, na casa de praia de sua família, na Itália e Oliver, americano, assistente acadêmico do pai de Elio.
Num ambiente bem intelectualizado, eles vivem o verão entre música, poesia, filosofia, literatura e sexo.
Aquilo me fez rir e, de repente, eu estava totalmente nu sentindo o peso do lençol no meu pau, e não havia mais nenhum segredo no mundo, porque o desejo de estar na cama com ele era meu único segredo, e agora estava compartilhando a cama com ele.
Como era maravilhoso sentir suas mãos por todo o meu corpo embaixo dos lençóis, parecia que parte de nós, como um grupo adiantado de exploradores, já tinha chegado à intimidade, enquanto o restante, exposto do lado de fora dos lençóis, ainda estivesse lidando com minúcias, como os retardatários batendo os pés no frio enquanto todos já estão se aquecendo do lado de dentro da boate latada. Ele ainda estava vestido, e eu, não mais. Amei ficar nu diante dele.
Então ele me beijou, e me beijou de novo, mais profundamente na segunda vez, como se também estivesse por fim se libertando. Em algum momento percebi que ele já estava nu havia um tempo, embora não tenha percebido quando tirou a roupa, mas ali estava ele, nenhuma parte do seu corpo não me tocava. Onde eu havia estado? Tinha pensado em fazer a pergunta delicada, mas ela também já parecia ter sido respondida havia um tempo, porque quando finalmente tive coragem de perguntar, ele respondeu:
- Eu já disse, estou bem.
~ Eu disse que também estava bem?
-Sim.
Ele sorriu. Desviei o olhar, porque ele estava me encarando, e eu sabia que estava vermelho, e sabia que faria uma careta, embora quisesse que ele continuasse me encarando mesmo que aquilo me deixasse envergonhado, e queria continuar a encará-lo quando assumimos a posição que simulava uma luta livre, seus ombros roçando meus joelhos. Como tínhamos avançado desde aquela tarde em que tirei minha
cueca e coloquei seu calção de banho e pensei que aquilo seria o mais perto que seu corpo chegaria do meu. Agora isso. Eu estava na cúspide de algo, mas também queria que durasse para sempre, porque sabia que a partir dali não havia mais volta.
Quando aconteceu, aconteceu não como eu sonhei, mas com um grau de desconforto que me obrigou a revelar mais de mim do que eu gostaria. Tive um impulso de interrompê-lo e, quando ele percebeu, perguntou, mas eu não respondi, ou não sabia o que responder, e uma eternidade pareceu passar entre minha relutância em relação a tomar aquela decisão e o impulso dele de decidir por mim.
Deste momento em diante, pensei, deste momento em diante ... tive, como nunca antes, a nítida sensação de ter chegado a um lugar muito estimado, de querer aquilo para sempre, de ser eu, eu, eu, eu e mais ninguém, só eu, de encontrar em cada arrepio que percorria meus braços algo completamente novo, mas nada estranho, como se aquilo fizesse parte de mim a vida inteira, algo que eu tivesse perdido e ele tivesse me ajudado a encontrar. O sonho estava certo ... era como voltar para casa, como perguntar Onde eu estive todo esse tempo? Que era outro jeito de perguntar Onde você estava durante minha infância, Oliver?
Que era ainda outro jeito de perguntar O que é a vida sem isso? Motivo pelo qual, no fim das contas, fui eu, e não ele, que deixou escapar, não uma, mas muitas, muitas vezes Você vai me matar se parar, você vai me matar se parar, porque também era meu jeito de unir o sonho e a fantasia, eu e ele, as palavras tão esperadas de sua boca para a minha boca e de volta para a dele, trocando palavras de boca em boca, que foi quando devo ter começado a proferir obscenidades que ele repetia depois de mim, baixinho no início, até que disse:
- Me chame pelo seu nome e eu vou chamar você pelo meu.
Era algo que eu nunca tinha feito na vida e, assim que disse meu próprio nome como se fosse dele, fui levado a um domínio que nunca tinha compartilhado com ninguém, e que não compartilhei desde então.
Aguarde
Autor: Vivien Lando
Veículo: Caderno Eu & Fim de Semana - Jornal Valor Econômico, edição sexta feira, 2/2/2018
Fonte: Jornal Folha de São Paulo, edição 2 fevereiro 2018
Existem livros feitos para serem filmados. Não necessariamente na intenção do autor, mas na incompletude que apresentam. Ou seja, quando a primeira arte, naquela antiga acepção grega, não faz jus à classificação, a sétima arte, muito posterior, sente-se à vontade para se apropriar do núcleo central e descartar os fiapos. O oposto também é verdadeiro. As grandes obras literárias, de "Guerra e paz" a "Os Maias", passando por uns tantos Machado de Assis e Proust, não costumam chegar incólumes às telas. Elas se bastam no canal de expressão em que nasceram e dispensam versões novidadeiras. Claro, com as honrosas exceções de "Morte em Veneza" (do original de Thomas Mann) e"O Poderoso Chefão (Mario Puzzo ). "Me Chame pelo Seu Nome", escrito em 2007pelo americano nascido em Alexandria hâ 67 anos André Aciman, como que suplica para ser arrebatado por algum roteirista talentoso. Deu sorte: James Ivory mergulha as mãos num texto quase anódino à primeira vista e extrai dele a base para um longa-metragem senão genial, ao menos Oscarizável, indicado para melhor filme, roteiro adaptado, ator e canção. Não é pouco. Da mesma forma, o garoto Elio, entorpecido pelo sol do verão italiano e pelo desejo florescente aos 17 anos, procura desesperadamente a anuência e reciprocidade de Oliver - o visitante bonitão de 24 anos que vem se hospedar na casa de seus pais para a temporada. Enquanto a sedução corre por meio de partituras musicais e teses literárias, de corridas matinais, nadadas e pescarias, o jovem apaixonado vai analisando a personalidade do amado, detectando suaves traços de psicopatia no homem que dá e tira seu afeto e seu sorriso de acordo com a necessidade de manipulação. Citações e excitações. "Nada do que fazia ou dizia era por acaso. Ele sabia interpretar qualquer pessoa, exatamente porque a primeira coisa que procurava nos outros era aquilo que tinha visto em si mesmo e não queria que os outros vissem." Enquanto evolui em semelhantes digressões psicológicas, o narrador vai se enjaulando numa primeira pessoa egoísta, que vai muito pouco além de suas medíocres conclusões. E já que a meta é levar o loiro lindo para a cama, nada disso faz muita diferença. Após o objetivo alcançado, "Me Chame Pelo se Nome" aparenta ter também atingido algum tipo de orgasmo e se libertado da espera. É dali para frente que tanto a paixão dos dois rapazes quanto a escrita que os inventa abandona o estereótipo e faz algumas manobras arriscadas em direção à boa criação. Um novo livro escapa da proposta inicial. Simplesmente porque o novo protagonista é ninguém menos que o Tempo, o grande deus Chronos, guardião da sabedoria provinda da experiência. Enfim, o melhor parceiro que o homem encontrou para transcender. É quando os garotos,já homens, abandonam o jogo de espelhos e egos e enfrentam a autonomia que os anos lhes trouxeram, que a relação se toma interessante, o romance, atraente e o filme, justificável. A modorra solar do beira-mar transforma-se em objetividade e vida adulta. E a memória de ambos, que se lembram de absolutamente tudo o que passaram juntos, permite finalmente a cumplicidade e envolvimento do leitor. Em tempo: chamar o outro pelo próprio nome é código milenar dos felizes detentores do amor avassalador. Eu sou você. Você é eu. Não foram eles que inventaram.
Autor: Nahima Maciel
Veículo: Correio Braziliense, edição 21 janeiro de 2018 - Diversões e Arte, pagina 6
Fonte: Correio Braziliense
A história de Elio e Oliver virou filme, lançado no Brasil em janeiro de 2018. Concorre em não sei quantas categorias do Oscar deste ano.
Então, jornais, revistas, sites, facebook e qualquer outra rede social fala muito do filme.
Virou moda.
Comprei o livro.
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