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A História de Abud Said, que vivia em Aleppo, a maior cidade ao norte da Síria.
Abud fala – diariamente - com o mundo através do Facebook.
Ele posta tudo o que acontece no seu dia-a-dia e também faz algumas reflexões sobre a vida, sobre as pessoas, seus vizinhos, sobre a guerra e sobre o ditador.
A história se passa durante a Guerra da Síria, que teve início em março de 2011 e no ano de 2018 ainda não terminou.
18 de janeiro de 2012 às 14:03
O ditador / não ouve jazz
23 de fevereiro de 2012 às 21:14
Minha namorada disse: eu gostaria de ver seu quarto e sua biblioteca.
Eu disse a ela: não tenho biblioteca, só alguns livros espalhados aqui e ali.
Eu não tenho meu próprio quarto / cada membro da família diz que meu quarto é o quarto dele / até as visitas, quando digo "fique à vontade", vão direto para lá.
Meu quarto é o que não tem cama / tem uma TV e um aquecedor / minha mãe sempre fica lá sentada / rezando e assistindo às notícias, e como ela não sabe ler, todo dia me pergunta o número de vítimas.
Fico nervoso com as perguntas dela e de vez em quando invento um número da minha cabeça.
28 de maio de 2012 às 15:03
Toda vez que eles dizem "grupos armados" / uma gargalhada coletiva ecoa do cemitério.
28 de junho de 2012 às 17:01
Confissão 51:
Continuarei escrevendo até chegar um tanque na porta da minha casa.
29 de julho de 2012 às 00:42
Caso bombardeiem o meu computador e a mim, alguém no exterior vai administrar
minha conta do Facebook. Nada vai mudar.
Minha foto de perfil continuará como está / de pinta e cigarro.
Meus amigos continuarão / o número pode variar.
As paixões / nós continuaremos enquanto houver teclas no teclado.
Os poetas / fodam-se seus murais do Facebook, um a um.
A morte / excluo um amigo e aceito o pedido de outro que esperava há meses.
A revolução / se levantou e o Facebook tomou o seu lugar.
25 de agosto de 2012 às 13:21
Enquanto minha vizinha bonita jogava água na frente da casa dela
eu estava na varanda, fumando. Fumando para convencê-la
de que estou muito ocupado, e não sozinho. Fumando para bater
as cinzas do meu cigarro na frente dela. Fumando para xingar o ditador
a cada trago. Fumando para que a fumaça queime meus olhos
até lacrimejarem e minha mãe ache que estou chorando a morte dos meus amigos
Fumando e fazendo uma nuvem de fumaça para que o mundo civilizado veja
que a nossa casa está queimando, e nos envie bombeiros e o resgate
Fumando para minha mãe não parar de fumar.
Nenhuma informação foi cadastrada até o momento.
Na FLIp de 2016, em Paraty-RJ, adotei um princípio para comprar os livros dos autores presentes. Seria necessário que o autor me emocionasse durante a respectiva apresentação (ou mesa de discussão). Abud Said foi vaiado, quando criticou o pessoal dos direitos humanos e disse que a mídia internacional e ONU fazem jogo sujo. Para mim bastou. Comprei seu livro.
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