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O DIA DO HOMEM - CONCEIÇÃO FREITAS, CORREIO BRAZILIENSE, 9 de março de 2008
O Dia do Homem.
Casada há mais de 40 anos com o mesmo homem, a senhora calma e sorridente comenta: sei mais sobre ele do que ele mesmo. Sei o que ele quer, o que está sentindo, onde se atrapalhou e, na maioria das vezes, ele fica sem saber. Eu resolvo e pronto.
Homem é isso.
Uma entidade movida a sexo, mas pouco ou nada sabe sobre si mesmo.
Nós, mulheres resolvidas, de cama, mesa, banho, profissão, contas, educação dos filhos, contas pagas com o passado, o presente e o futuro, temos o mapa nas mãos.
E isso de pouco tem nos adiantado.
Homem não fala de si mesmo, pouco sabe de si mesmo. Homem é exibido - e como o homem é exibido.
Flaubert, no Madame Bovary, diz que o homem é por natureza covarde. Não me lembro as circunstâncias da cena onde o narrador dizia isso, mas se ele se referia às coisas da emoção, sabia muito bem o que estava dizendo.
As meninas acham o pai uma entidade absoluta, a perfeição com excesso de pêlo no corpo, voz encorpada; sem cintura e sem peito.
A adolescência começa a ensinar a elas que eles não são essa monumentalidade toda. São cheio de buraquinhos, um em cada poro, como uma amiga disse ao marido pra mostrar a ele que o ser humano, homem e mulher, é todo inconcluso, imperfeito e falho.
Homem, sexo masculino, não dá muito conta disso.
Homem parece ser eternamente o menininho que aposta quem faz jato de xixi mais longe.
Não é mole ser homem, sem trocadilho infame.
Nem antes, quando deles se exigia a fortaleza desprovida de choro e emoções, nem agora, quando a mãe não se importa que ele chore, mas o pai faz cara de "né possível que você vai ser viado". (Ser homem e gay, então, é mais difícil ainda. É preciso ser muito macho para ser gay, mas essa é outra conversa).
E parece ser mais difícil ser homem e mulher no jogo entre homem e mulher, porque a mulher parece que virou homem e o homem não tem mais o lugar dele a partir do olhar dela.
Não sei se me fiz entender.
O homem está atarantado: perdeu seu lugar e a roda da história parece que vai tomar dele o poder e entregá-Io à mulher.
No meu tempo de criança, o pai ficava na cabeceira da mesa, a mãe de um lado e os filhos ao redor.
Parece que hoje o homem não vai mais tranqüilamente para a cabeceira.
Alguém puxou a cadeira dele e ele até faz pose de macho, pra não perder a pose, mas tá num medão danado porque ficou sem lugar determinado.
E homem com mêdo é um perigo.
As mulheres sabemos o preço que pagamos para dar conta das vitórias do feminismo.
Mas a situação deles é muito pior.
Eles terão de fazer longa, dolorosa e incerta viagem, de fora para dentro, para fabricar um novo lugar que lhes caiba justa e confortavelmente. Sem perder a pose de macho, porque isso tem um charme que faz muito bem às mulheres.
Uma mulher só é mulher mesmo diante de um homem, homem mesmo.
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