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Carnaval! Tempo de reflexão!
Fevereiro 2002 - Gustavo Mafra
Fevereiro. O Brasil pára.
A folia toma conta das cidades e dos corações.
O calor torna ainda mais forte o cheiro de samba, suor e cerveja, que vai se alastrando pelo ar, como gás napalm no meio de uma guerra civil.
Não há quem não se contagie com o Carnaval.
Amigo meu, uma década de rock'n'roll, esse ano se rendeu.
Vai vestir plumas, paetês e lantejoulas e desfilar pela Caprichosos de Pilares.
Caprichoso como só ele.
Pois é.
Hoje o carnaval é só alegria.
Arlequins, Pierrôs e Colombinas vestem roupas coloridas, saem as ruas cantando velhas marchinhas, jogam confete e serpentina.
Mas houve um tempo em que a alegria era proibida.
Em que ser feliz era mal visto, e que o amor era só uma lenda.
Eram tempos muito antigos.
Música, fantasia, luxo, nada disso estava disponível para o povão.
A única diversão eram os livros e a comida.
E eram escassos.
Afinal não haviam prensas.
Os livros eram escritos a mão.
E só quem tinha tempo de escrever ou copiar um livro inteiro a mão eram monges, rabinos e outros religiosos.
E justamente por serem escritos por religiosos que os livros eram muito chatos. Sérios. Em alguns casos, davam medo.
E foi nesse cenário que o primeiro carnavalesco do mundo surgiu.
Foi ele quem teve a idéia de montar o primeiro Grêmio Recreativo e Escola de Samba do mundo, a Unidos da Galiléia.
Eram 12 integrantes. Todos usavam mantos coloridos (o costume de usar trajes sumários de lantejoulas veio bem depois).
Seu nome: Jesusinho 30.
Ele já nasceu carnavalesco.
Ao invés de uma camisa do flamengo e uma banheira de plástico, ganhou na maternidade ouro, incenso e mirra.
Seu primeiro grande feito foi dar uma conotação divertida aos livros que existiam.
Para ele, cada história era um enredo a ser contado por alas e carros alegóricos numa avenida.
Aliás, a idéia de avenida foi dele:
"Houve um dia em que meu povo não teve onde se assentar /
e foi aí que nosso líder sambou, fez abrir o mar /
e o povão foi pro Egito cheio de ginga nas canelas /
e Moisés, velho bonito, fez da água passarela"
Jesusinho 30 se notabilizou também por explicar a origem do mundo numa bela história, cheia de serpentes, frutos proibidos.
Foi aí que surgiu o primeiro tapa-sexo.
Ele misturou naturalismo, luxo, elegância e minimalismo ao usar uma folha de parreira para esconder a xoxota de Eva e o Bilau de Adão.
Jesusinho também era craque em contar histórias bonitas, cheias de luxo e galhardia.
Promovia banquetes com camarotes patrocinados por grandes marcas de vinho, com muito peixe, muito pão.
Protagonizou o primeiro beijo entre homens.
O liberalismo e a traição inspiraram festas como o baile de gala do metropolitan e o gala gay.
Neste carnaval, lembremos então daquele que foi o maior! Jesusinho 30!
Alô povão agora é sério!
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