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Traduzido por: Livro Editado em Português do Brasil
Páginas: 98
Ano de edição:
Peso: 135 g
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No final dos anos 60, surgia Plínio Marcos, autor de assuntos malditos, muito vividos no submundo da sociedade paulista e carioca, como homossexualismo, marginalidade, prostituição e violência. Estilo direto, cru, sem disfarces. Virou sucesso com a sua peça maior "navalha na carne". Querô, conta uma dessas histórias. O estilo adotado é de literatura agressiva.
A história de Jerônimo da Piedade, o Querosene, ou o Querô.
Contam que tinha um rato que fazia apontamento com os negos e que era o mais fudido de todos. Um tal de Toco de Vela. Esse era mau pra caralho. Eu escutei contarem o que esse filho da puta aprontava. Que Deus o tenha morrendo de câncer no cu em algum canto fedorento do seu roçado. Esse filho da puta foi o que teve de pior. Era a lepra encarnada. Ele era manjado como Toco de Vela, porque andava sempre com um monte de tocos de velas no bolso. Quando tinha que acertar algum vagabundo, era todo cheio de presepada. Arrastava o nego pra uma pirambeira e, com toda sua patota, barbarizava o cara. Claro que ele ia com a cupinchada dele. Sozinho, não era ninguém. Até bundava. Mas, enturmado com os ratos e com pó nas ventas, era broca. Já ia matar o vagau, mas não queria saber. Barbarizava. Esculachava. Os negos pediam pelo amor de Deus e por tudo o que era sagrado. Imploravam pra ele atirar logo. Nem era dispensa que pediam. Era só pra acabar com a festa. Pediam pra ele matar. Mas, que nada. O Toco de Vela curtia. Gostava de ver nego homem se encagaçar na sua frente, gemer, chorar, mijar de dor e de medo. Queimava os caras com cigarro. Apertava as bolas do saco dos vagaus. Fazia os caras chuparem o pau de um cachorrão que ele tinha e até fazia o cachorrão comer o cu dos caras. Era um porco tarado. Sentia um puta de um tesão nisso. Devia se esporrar todo com essas sacanagens....."
...."Saír na rua, fazer o ganho na valentona, ou aplicar a arte no bolso dos trouxas. Arroxar puta pobre, bichona, bebum, qualquer otário. Mas, eu estava boboca. Boboca de medo. Pregado de medo na cama. Sem tesão de levantar, nem pra comer, nem pra cagar, nem pra porra nenhuma. Se levantava pra mijar, sentia tontura. Estava fraco. Fraco de vontade. Doente. Doente de medo. Não estava com nada. Só com medo. Um puta medo. Uma bola que ficava dançando no estômago, subia até o gogó e me fazia sentir vontade de vomitar até a nojenta água que eu bebia. Eu estava encagaçado. É isso: encagaçado. Quem tem cu tem medo. E eu não sou melhor do que ninguém. Sou um bosta. Um bosta. Um puta de um bosta. Um bosta fudido que nunca foi porra nenhuma em lugar nenhum. Que sempre teve medo. Um medo fudido de tudo e de todos. Um medo que só ali, naquela hora, eu sacava que tinha. Eu só tive, em toda a puta da minha vida, raiva e medo. E não mandei, a raiva pra frente de medo. De medo. De medo. De um puta medo. E ali, fudido, estarrado, imprensado, eu estava me ardendo, me acabando inteiro, porque tinha que escolher. Ou fazia e acontecia, como sempre achei que ia fazer e acontecer, ou bundava de uma vez pra sempre. Não dava mais pra deixar pra depois, pra outro dia, pra quando estivesse com as patas na arma..
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Navegando pela estante virtual, encontrei o livro num sebo do nordeste. Imediatamente passou ao acervo da bibliomafrateca, como o primeiro exemplar ao Plínio Marcos.
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