50 TONS DE “AMIGA, PARE” PT. 4
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Veículo: RT @Mrs_McCarthy32: Somehow I feel like this dog is better off on her own. http://t.co/A5Lnoimns6 1 day ago
um sentimento http://t.co/QcOcR1T1Xw 2 days ago
catei cavaco tão ferozmente na rua hoje que cogitei fingir desmaio 3 days ago
clica, programa não abre, clica, programa não abre, clica, programa não abre, clica, abre uma caralhada de janelas 4 days ago
Fonte: Sunday Sun - RT @Mrs_McCarthy32
50 TONS DE “AMIGA, PARE” PT. 4
Eu sei que demorou, mas o post é enorme. Chegamos ao 5º capítulo, o mais irritante e perturbador até aqui. Este texto está cheio de fúria, estejam avisados. (Sugiro também que se você for sensível à leitura sobre abuso sexual, não leia o post nem o livro em questão.)
Naná está acordando, se dando conta do ambiente em que está, tipo Zuzu perdida. Ela junta os detalhes aos pouquinhos e entende que tá no mesmo hotel onde foi a sessão de fotos pro jornal, mas numa suíte maior, que portanto só pode ser de Christian Grey. Ela percebe que ainda está usando as roupas da noite anterior, exceto as calças. A reação de Naná a essa constatação: “puta merda”. Apenas. Nenhuma explicação mais profunda de sentimento, nem que seja de confusão, e veja que a essa altura do livro Naná já expressou confusão com telefones tocando, identificadores de chamada, coisas bem elementares, mas a calça dela some, ela não sabe quem tirou, e a reação é só “puta merda”. Beleza. Aí ela vê na cabeceira da cama um copo de suco de laranja e uns remedinhos pra ressaca, e ela “ain, como ele é controlador. E eu nem tô de ressaca”. Ela acorda em um lugar aonde não concordou em ir, tá sem as calças e o problema dela é com o suco de laranja. E é claro que ela não tá de ressaca depois de tudo aquilo. Hmm-hm.
Então Christian chega e ela pergunta (“com a voz baixa, cheia de arrependimento”) como foi parar ali e ele responde que preferiu levá-la pra lá em vez de pra casa porque não queria arriscar estragar o estofamento de couro do carro, caso ela vomitasse. QUE CARA LEGAL (por “legal” entenda “cretino”). Então ela pergunta se foi ele que a despiu e ele diz que sim. Ela tenta perguntar se eles transaram (“tenta” porque Naná é quase incapaz de pronunciar a palavra “sexo”, gente. Tipo a Miranda, mas a Miranda é engraçada pelos motivos certos. Miranda ❤). A resposta dele é: “Anastasia, você estava em um estado comatoso. Necrofilia não é a minha praia. Gosto de mulheres conscientes e receptivas”. Ela responde com “sinto muito” e eu não consigo entender a lógica, mesmo a lógica no nível Naná de compreensão do mundo. Vamos fazer uma pausa aqui pra eu explicar uma coisa.
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Naná, uma pessoa em estado de coma alcoólico não tem capacidade de consentir com o que quer que seja, especialmente atos sexuais. Esse rapaz devia ter te levado pra casa, como combinado antes de você desmaiar. O fato de ele não ter abusado sexualmente de você não faz dele um ser superior, isso é só o mínimo que se espera de um ser humano. E Christian, necrofilia e estupro são dois atos de violência diferentes. Relativizar não contribui pro ar de superioridade que você quer passar. Informei.
A conversa segue toda errada: Christian caçoa de Naná, dizendo que a noite foi divertida e que não vai esquecê-la tão cedo. Ela rebate dizendo que não pediu pra ele rastrear seu paradeiro, e ele manda a tréplica: a tecnologia pra fazer isso tá aí ao alcance de todos e se ele não tivesse ido buscá-la ela estaria acordando na cama de José Rodriguez, “e, pelo que eu me lembro, [você] não estava muito entusiasmada em vê-lo lhe fazer a corte”. Aí Naná se apega ao “fazer a corte” e eu penso que ela tá furiosa que nem eu, porque 1) tentativa de abuso NÃO É FAZER A CORTE; 2) ele tá usando a tentativa de abuso contra ela pra mostrar que ele tá certinho em ter violado sua privacidade; MAS NÃO, ela que saber de que crônica medieval esse “cavaleiro cortês” escapou, por causa do vocabulário antiquado.
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POR QUE eu ainda tô lendo essa droga? Serei eu a masoquista da história? Esse seria um bom plot twist, né? Ta-da, the joke is on you.
Christian pergunta a Naná se ela comeu na noite anterior, ela responde que não. Ele se irrita e diz que ela devia, que essa é a regra nº 1 antes de beber. Ela nota a irritação e pergunta se ele vai continuar a repreendê-la. Ele diz que ela tem sorte por ele estar apenas repreendendo, pois “se você fosse minha, ficaria uma semana sem conseguir sentar depois do que aprontou ontem. Você não comeu, tomou um porre, se arriscou.Odeio pensar no que poderia ter acontecido com você”.
Amigos… Tá dificílima minha situação aqui. É muito erro, gente. O cara acaba de dizer que se ela fosse tipo UM OBJETO DE POSSE DELE, ele a castigaria a ponto dela passar uma semana sem conseguir sentar, e a reação da pessoa é: “Olho de cara feia para ele. Qual é o problema desse cara? O que ele tem com isso? Se eu fosse dele… Bem, eu não sou. Se bem que talvez uma parte minha gostaria de ser”.
AMIGA, O CARA DISSE QUE A SUA ATITUDE É DIGNA DE ESPANCAMENTO AO PONTO DE TE INCAPACITAR, CÊ NÃO PEGOU ESSA PARTE, NÃO? LÊ DE NOVO AÍ, QUE FOI TU MESMA QUE ESCREVEU, CRIATURA.
E há quem diga que quem critica o livro não manja dos paranauê BDSM e quiçá de relacionamentos românticos como um todo, que não tem abuso nenhum aqui, não. Me faça uma garapa, sinceramente.
Ela segue: “enrubesço diante da imprevisibilidade do meu inconsciente, que está saltitando todo feliz diante da ideia de pertencer a Grey”. MAS. QUE. CARASDHSJFLHA.
A conversa continua com Naná dizendo que ia ficar bem se ele não chegasse, ele joga José na cara dela de novo e ela “ele só passou dos limites”.
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Christian vai tomar banho, depois de mais uma passagem que tenta fazer com que a gente acredite que a obsessão dele com disciplina é de algum modo sexy. Enquanto isso, Naná fica entregue aos devaneios, pensando o que faria para ser dele. “Ele é o único homem que já fez o sangue disparar em minhas veias. Mas também é muito antipático”. Oxe, oxe.
Aí ela levanta da cama e lembra da calça perdida e começa a procurá-la (minha calça, ninguém sai). Christian sai do chuveiro enrolado em uma toalha e ela tá lá com a figura exposta.
“-Se estiver procurando sua calça, mandei lavar.- Seu olhar é sombrio. – Estava toda suja de vômito.
-Ah.”
“Ah.” Naná, cara…
“-Mandei Taylor comprar outra calça e um par de sapatos. Estão na sacola em cima da cadeira.”
Taylor é o mordomo/motorista/empregado de Christian. Naná não se incomoda com nada nessa situação. Vai tomar banho quase correndo pra se afastar “da enervante proximidade de Christian nu”, que na comparação dela deixa o Davi de Michelangelo no chinelo. RONC. Durante o banho, ela fica lá desejando Christian e chega à conclusão que se ele disse que gosta de mulheres conscientes, então ele não é celibatário. (Chamas. Chamas ao redor do meu rosto.) Mas ainda assim, não entende como ele “não deu em cima dela”. Mas ao mesmo tempo ele a trouxe pra esse quarto de hotel, então ela não entende qual é o jogo. Entra de novo ~o fantasma do inconsciente~ de Naná dizendo “Você dormiu a noite inteira na cama dele, e ele nem tocou em você, Ana. Pense um pouco”.
MAS QUE INFERNO.
Xeu repetir o que eu disse antes, com um adendo: uma pessoa em estado de coma alcoólico não tem capacidade de consentir. Ele não tocou em você, Naná, não porque não está interessado, mas porque NÃO PODE. Seria um ato de violência, um crime. O fato de você estar a fim dele não muda isso em nada, também. E ele respeitar isso não faz dele um santo, não dá direito a medalhinha, faz dele só uma pessoa agindo como se espera que uma pessoa decente aja. E você não lembra de nada da noite anterior, então COMO você pode se apegar tão negativamente ao fato de nada ter acontecido? PARE. PARE. PARE.
O banho de Naná é interrompido pelo aviso de Christian de que o café chegou. Ela olha as roupas na sacola e percebe que Taylor comprou até uma lingerie chique pra ela “que cabe direitinho”. Ela não se pergunta como um desconhecido descobriu o tamanho certinho da lingerie dela enquanto ela estava desacordada, mas enrubesce pensando no cara indo comprar isso.
Aí Naná lembra que Kate existe e resmunga o nome dela; Christian ouve e diz “ela sabe que você tá viva, mandei um SMS pro meu irmão”. Adoro que Kate é bem chillax, né, o cara (de quem ela não gosta) diz que vai levar a amiga dela que tá bêbada e desmaiada pra casa. Ela chega em casa, a amiga não tá, ela espera até a manhã seguinte e recebe de outra fonte a mensagem que “tá tudo bem, ela tá aqui ainda” e nem tchum.
Então Naná e Christian sentam pra tomar café (e ele pediu o menu TODO porque não sabia do que ela gostava. Rico. Suave). Naná agradece pelas roupas e diz que devia pagar por elas, porque não vê a razão de ele lhe comprar nada, e ele diz que compra porque pode.
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Ela lembra de perguntar por que ele mandou os livros. Ele olha pra ela com uma “emoção insondável”. O legal desse livro é que a única emoção realmente sondável até o momento é a de irritação (tanto dos personagens quanto minha). Facinho crer que tô lendo um livro sobre ~paixão~ quando o objeto de afeto da narradora-personagem é totalmente incompreensível pra ela. A explicação de Christian para os livros é que depois do episódio de quase atropelamento ele sentiu que lhe devia um pedido de desculpas e um aviso, porque ele não é o tipo romântico. Porque isso faz todo o sentido no mundo. É aí que chega o momento meme do livro: ele diz que seus gostos são singulares e que ela devia ficar longe dele por isso, mas que ele não consegue ficar longe dela por algum motivo.
Naná mais uma vez apresenta surdez seletiva e só reage à parte em que ele diz que não consegue ficar longe dela. Ela diz para ele não ficar, então; ele diz que ela não sabe do que está falando. É aí que ela pede que ele esclareça. Em vez disso, eles mudam de assunto e têm a coisa mais parecida com uma conversa normal até o momento, com Christian perguntando sobre a iminente mudança dela e Kate para Seattle e o que ela pretende fazer lá (inclusive dizendo novamente que ela devia trabalhar na empresa dele. Bem ético e tal), mas na cabeça de Naná qualquer pergunta que demonstre interesse nela como pessoa representa a Inquisição. Então ela morde o lábio pela ducentésima vez no livro e ele diz que gostaria de mordê-lo também. Ela tipo “opa, vem” (não sem antes ter um princípio de piripaque enquanto encara “seu olhar sinistro”), e ele diz que não vai tocá-la até ter seu consentimento por escrito.
Quer dizer.
Então eles combinam de se encontrar quando Naná sair do trabalho pra ele poder mostrar o que são esses gostos singulares. As hipóteses de Naná são quase mais engraçadas que os memes, talvez porque nenhuma delas envolva atos sexuais. Ela deduz que ele deve escravizar criancinhas em alguma parte desolada do planeta, ou talvez pertença a alguma organização criminosa, o que explicaria como ele é tão rico. Falando nisso, em momento algum desse livro a gente descobre o que exatamente Christian Grey faz, né? Ele tem uma empresa com o nome dele, um prédio do tamanho do próprio ego e é isso aí, pro inferno com esse tipo de detalhe. Como a essa altura talvez ainda não tenha ficado claro que ele É MUITO RICO, descobrimos que ele não só possui como pilota um helicóptero (de nome Charlie Tango – vá entender), que ele anuncia que vai usar pra ir de Portland a Seattle “porque ele pode” (sim, de novo). Temo que, depois desse capítulo, a próxima tentativa de ressaltar a riqueza de Christan seja uma passagem dele dublando “I’m So Fancy” da Iggy Azalea.
Naná termina o café da manhã sob insistência de Christian, que diz ter problemas com desperdício de comida. Quer dizer, gastar recursos voando de helicóptero “porque eu posso” tá de boas, mas a menina não querer comer o café da manhã monstro que você comprou não pode, Deus castiga. Ao se levantar da mesa, Naná se pergunta se deveria pedir licença, mas prefere não fazê-lo porque “parece um precedente perigoso para se abrir”. Parabéns, Naná, pena que diante de todo o resto essa presença de espírito momentânea não valha de nada, né? Então Naná se dá conta de que não sabe onde Christian dormiu e resolve perguntar, descobrindo que não só ele dormiu na mesma cama que ela, como foi a primeira vez que Christian dormiu com alguém. Oh! Naná é toda confusão novamente (e quando não é?), voltando à teoria do Christian Grey virgem. Mas ela fica mesmo passadíssima é por ter perdido essa grande oportunidade de observá-lo dormindo.
Naná vai secar o cabelo antes de sair (porque Christian mandou) e resolve escovar os dentes. Naná não tem uma escova de dentes na bolsa. O que faz Naná? Usa a escova de dentes de Christian, porque seria “como tê-lo em sua boca”. Tá certinha, amiga. É a mesmíssima coisa, igual que nem. “Sinto-me muito travessa. É muita emoção”. Naná, você é muito esquisita.
Então ouvimos Christian falando ao telefone com algum subordinado numa conversa enigmática, citando nomes de regiões de conflito aleatórias (Suez, Darfur), o que só serve pra gente saber ainda menos o que é que ele faz da vida.
Eles finalmente vão embora do hotel, não falando nada até o elevador, onde Christian resolve com um “foda-se a papelada” beijar Anastasia. Mas como sabemos que esse é um homem de “gostos singulares”, ele a beija contra a parede, segurando as mãos dela acima da cabeça com uma mão e puxando o cabelo dela com a outra. Bom, por onde eu começo? A ideia da incapacidade de Christian Grey nem ao menos beijar sem forçar uma pose BDSM é grotesca, e só. O livro tenta vender a ideia de que o contrato é uma forma de proteger Anastasia, mas que conveniente que Christian tome a decisão pelos dois neste momento que “foda-se a papelada”, quando ela nem sabe do que se trata, né? E esse beijo dá o tom (sem intenção de trocadilho) das interações sexuais entre os dois pelo resto do livro: a iniciativa é sempre dele e Naná é sempre objeto, nunca sujeito. E isso não se justifica com a temática BDSM, não.
Aqui temos também a primeiríssima aparição da famosa deusa interior, que nada mais é que OUTRA fada Sininho, como o subconsciente de Naná, porém essa curte comemorar qualquer pensamento ou ação minimamente sexual dançando ritmos latinos (ela estreia dançando samba. VAI, BRASIL!). Eu devo dizer que antes de ler o livro eu não fazia a mínima ideia do que ela seria. Tenho que confessar pra vocês que eu cheguei a cogitar que fosse uma forma da protagonista se referir à própria vagina, numa linha de pensamento meio Valesca Popozuda. Eu achava que era inclusive por isso que estavam rolando discussões se esse livro era empoderador para mulheres ou não, assim como se discute o trabalho da Valesca (ou seja, superestimei a coisa).
Se esse capítulo já foi tão problemático até aqui pra culminar em um beijo, sinto que não vou ter energia pra resenhar o resto em detalhes, amiguinhos. Se o livro continuasse só ruim, eu seguiria pela diversão, mas não conseguiria fazer uma resenha de cada capítulo sem comentar detalhadamente o que me incomoda no que diz respeito ao abuso. Acho que seria irresponsável, até. Então não é que eu não aprecie a oportunidade de pregar a palavra do consentimento, que por isso eu até sairia por aí batendo de porta em porta, é que fazer isso partindo de um material tão equivocado é muito, muito cansativo. Então o próximo post deve ser um resumão do resto do livro, nos moldes das resenhas que eu já costumava escrever pro Desafio Literário do Tigre, mesmo. Obrigada por acompanharem!
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18/02/2015
50 TONS DE CINZA, LIVROS
50 TONS DE “AMIGA, PARE” PT. 3
Bom, a essa altura eu queria passar mais rápido pelos capítulos, mas algumas partes do que li até agora me deixaram um tanto quanto ENFURECIDA, então preciso compartilhar.
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O 4º capítulo começa com Naná ainda meio no chão, meio nos braços de Christian, mandando mensagens telepáticas para que ele a beije. Ele reage balançando a cabeça e (antes de levantá-la), manda um “fique longe de mim, eu não sou o homem certo pra você. Agora respira aí que eu vou te ajudar a levantar”. Depois ele tenta falar alguma coisa e não consegue, e manda um “boa sorte aí com as provas”. Naná fica confusa, primeiro porque não entende como não foi beijada tendo deixado “tão claro” que queria, depois por não entender como ela pode ter interpretado a coisa toda tão mal. Naná aparentemente desconhece o dito “não é você, sou eu” (às vezes ele é verdadeiro).
Naná chora arrasada no estacionamento, deslizando parede abaixo, ainda que seja por um homem que ela conhece há 3 dias e cujas características positivas enquanto ser humano ainda não foram descobertas (na verdade, Naná se refere a ele até aqui como “maníaco por controle” por mais vezes do que pude contar). Todo um monólogo que é uma mistura de como ela sempre foi rejeitada nos esportes, porque ainda não ficou muito claro que ela é desastrada, seguido de como ela não está acostumada com rejeição, porque geralmente é ela quem está sempre rejeitando as pessoas. Oi? Aí a consciência dela (que é tipo uma fada Sininho, que fala com ela apontando o dedinho, batendo o pezinho) manda ela deixar disso, entrar no carro e ir estudar imediatamente, que é a primeira atitude sensata e digna de parabéns que ela tem no livro até agora, e é justamente isso que ela faz, não sem antes contar a Kate o que aconteceu e ter mais um momento de “ele é maravilhoso demais pra um troço feito eu e é por isso que não podemos ficar juntos”. À noite, quando ela volta a pensar no que aconteceu e no conceito misterioso de um homem não querer namorar, ela conjectura se de repente ele é celibatário. Se ele está se guardando. Christian Grey adepto ao movimento “Eu Escolhi Esperar”. Chegando a essa conclusão, a Sininho do mal que é o subconsciente de Naná manda um “se ele está se guardando, pra você é que não é”, e ela vai dormir.
Naná termina as provas finais da faculdade e resolve que vai comemorar enfiando o pé na jaca, estando novamente correta, porém Naná nunca ficou bêbada antes (avalie o que vem por aí). Então ela chega em casa e encontra um pacote para ela sem endereço de remetente. DE QUEM SERÁ? O pacote contém nada menos que a 1ª edição de “Tess of the D’Ubervilles” (pelo menos não foi da Ilíada, né? E já que presentear as pessoas com primeiras edições de livros antigos – ou diretamente da Antiguidade – parece ser uma tendência moderna, deixo aqui a indireta pra quem quiser me presentear que, caso isso passe pela sua cabeça, por favor, use o dinheiro em outra coisa. Tenho rinite.) O pacote vem acompanhado de um recadinho. Na tela:
Por que não me disse que havia perigo? Por que não me avisou? As senhoras sabem do que se proteger, porque leem romances que lhes ensinam sobre esses truques…
E Naná tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente. Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentali– Não, péra. Para. Esse é um presente vindo de um cara que falou pra menina se afastar – e ela se afastou. Um presente enviado pra um endereço que ela nunca deu. Acompanhado de um bilhetinho com uma citação de um momento crítico de “Tess”: é o que a protagonista diz para a mãe quando volta pra casa depois de ser abusada sexualmente por um homem que se passa por seu primo pra ganhar sua confiança. O que ele quer dizer com isso? (A pergunta é genuína agora. Essa é uma tentativa de romantizar a história de Tess ou de colocar mais umas 10 camadas de ERRO na história deste livro?) Notem que Naná acaba de escrever um ensaio sobre “Tess” pra faculdade. Ela decide que não sabe e nem quer saber o que significa e que não pode aceitar o presente (avaliado por Kate em uma busca na internet por US$ 14 mil).
Naná e Kate começam a comemoração de fim de curso em casa, tomando champanhe, e seguem pro bar, onde Naná toma pelo menos cinco margaritas e mais algumas cervejas, sem ter comido nada antes. Alguém me ajude. Cadê os amigos dessa criança? Ah, é, José está tentando fazê-la beber ainda mais e Kate tipo “uuuuh, mais bebida!”. Temos a receita pra um desastre bem aqui. Naná se levanta, e só ao ter a sensação de rodar, rodar, rodar sem saber exatamente para onde está indo é que ela entende que misturar tanta bebida não foi uma boa ideia e decide ir ao banheiro, em vez do bar.
Na fila do xixi ela mexe no celular, vê o número de Christian Grey entre as últimas chamadas efetuadas e “hihihi, vou ligar pra ele. A essa hora eu posso ser bem inconveniente, acordando-o no meio da noite e perguntando sobre aqueles livros que ele me mandou”. Grey atende com “Anastasia?” e Naná se depara com mais um conceito desconhecido, o do identificador de chamadas, porque ela não tem ideia de como ele sabe que é ela. Ela pergunta sobre os livros, mas ele não responde e começa a questioná-la sobre seu estado de embriaguez e quer saber onde ela está. Ela diz que está em um bar em Portland, mas não diz qual. Ele pergunta como ela vai voltar pra casa, o que é uma preocupação razoável, já que estamos tratando da combinação álcool + Naná, e ela diz “vou dar um jeito”, um argumento pouco convincente, tendo em vista o tamanho da mangüaça (a palavra “manguaça” perde o encanto escrita sem trema, tô nem aí pro que a ortografia diz). Ele pergunta novamente onde ela está e ela diz que ele é muito autoritário, uma reação que seria providencial em outros momentos, mas Naná parece escolher se rebelar só quando as outras pessoas (Christian inclusive) fazem sentido. Então Naná bate o telefone e fica surpresíssima quando ele liga de volta, primeiro porque em poucos segundos ela meio que já esqueceu que ligou pra ele, segundo porque ela NÃO PENSOU NA POSSIBILIDADE dele ligar de volta. Estamos na era digital e Naná mal sabe como telefones funcionam. Christian avisa que está indo buscá-la e desliga, o que deixa Naná pensando “como assim? Ele nem sabe onde eu tô”, seguido de “nah, até ele chegar de Seattle eu já vou ter saído daqui faz tempo”, o que é uma atitude um tanto babaca. Eu não acho de forma alguma que Naná de fato precisasse que ele a buscasse (apesar de que não sei se uma pessoa que liga pra alguém e dois segundos depois esquece estaria em condições de chamar um táxi ou se certificar de que a pessoa que vai levá-la para casa está em condições de fazê-lo), mas em momento algum ela diz para ele que não quer que ele vá. Ela acha que vai dar um perdido e ficar por isso mesmo.
Depois de passar no bar e trazer mais cerveja pra mesa dos amigos, Naná decide ir tomar um ar, ao que Kate diz “você é muito fraquinha”. Que amiga maravilhosa? Chegando lá fora, Naná novamente tem um momento de lucidez sobre o quanto tá bêbada e acha que vai vomitar. Nesse momento, José aparece. Falando em José, ele não apenas se chama José Rodriguez, como aqui e ali ele diz coisas como “Dios mío”, porque você não pode esquecer que ele é hispânico.
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A autora reagindo à própria escolha de palavras
E então chegamos a uma das partes mais problemáticas do livro até aqui (daí a minha fúria): José pergunta se Naná está bem e ela responde que acha que bebeu demais. Ele pergunta se ela precisa de ajuda e a abraça, ela tenta se afastar dele e ele começa a tentar beijá-la, enquanto diz que gosta muito dela. Ela diz “não” repetidamente, sem conseguir se desvencilhar dele. Tô mencionando essa passagem um pouco mais detalhadamente do que faria pra deixar claro que o que eu li é uma descrição de agressão (volto a falar disso no próximo post). Nesse momento, uma voz surge da escuridão dizendo “acho que a senhorita disse ‘não'”, precisamente como naquela cena de “RoboCop”. Christian Grey de alguma maneira achou o bar certo (e na hora certa, oh! Ao menos a cena correspondente a esta em “Twilight” pode ser explicada com os poderes sobrenaturais de Edward. Ou seja, nada é tão ruim que não possa dar origem a algo pior). José larga Naná, que começa a vomitar, ao que ele reage com mais um “Dios mío!”. Christian ajuda Naná a continuar vomitando, depois diz que vai levá-la para casa. Entre um delírio e outro, Naná se dá conta de que está sendo stalkeada por Christian (endereço para envio dos livros, localização do bar) e pensa “uia, ele tá me stalkeando! Mas é ele, então tudo bem! Hihihi!”. Depois ela se lembra de Kate e insiste em procurá-la pra avisar aonde vai e ele diz que não precisa, pois seu irmão já está dentro do bar conversando com ela. Naná não entende, e na verdade nem eu. Como o irmão dele sabe quem é Kate? Naná insiste um pouco mais (e a necessidade de insistência dela chama minha atenção pra o fato de que ele quer afastá-la da amiga de quem ela depende. Alerta de comportamento abusivo).
Eles entram no bar procurando por Kate e descobrem que ela está na pista de dança com Elliot, irmão de Christian. Considerando que não se sabe como ele sabia quem Kate era, eu adoraria ter acesso ao diálogo entre eles, que imagino assim: “Oi, moça, você é a Kate? Por favor, seja, já perguntei a outras 13 neste lugar que batem com a sua descrição”. “Sou eu”. “Então, sua amiga Naná tá ali fora chamando urubu de meu lôro e meu irmão, aquele que tem agido de forma confusa e de quem você acha que ela devia manter distância rastreou a localização do celular dela, está aqui e vai levá-la para casa”. “Ah, tá. Bora dançar?”. “Opa”. Naná fica chocadíssima com mais um novo conceito: Kate está dançando sensualmente com um homem que acabou de conhecer. Ela pensa “preciso fazer o sermão do sexo seguro”, isso porque acabou de aprender uma coisa ou duas em um cartaz que ela leu no banheiro do bar entre um e outro daqueles telefonemas.
Christian resolve dançar com ela também e primeiro ela resiste por não saber dançar, mas depois o acompanha, e ele é um dançarino tão bom que por algum motivo ela consegue acompanhá-lo passo a passo e acha que é por estar bêbada que está dançando bem. Naná, o importante é ser feliz, mas a verdade mais provável é que você acha que está dançando bem justamente por estar bêbada.
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E então, dançando, Naná vai até o chão. E por ir até o chão eu quero dizer que ela cai de cara no chão.
Fechamos o capítulo com Christian emitindo um “RUDE EPÍTETO”: “Merda!”.
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12/02/2015
1 COMMENT
50 TONS DE CINZA, LIVROS
CINQUENTA TONS DE “AMIGA, PARE” PT. 2
Pronto, gente, voltei.
oprah47
Eu devo dizer antes de mais nada que vocês são uma graça, fiquei muito feliz por vocês se divertirem, de verdade. <3 Por outro lado, eu meio que tomei um susto com a repercussão, precisei até fechar os comentários pelas muitas notificações. Não esperava tanta gente me lendo, agora tô me sentindo quase tão sem jeito e inapta pra funcionar quanto Naná. Tô quase mandando um “desculpa aí qualquer coisa”, tamanha a noia. Mas vamos em frente, que eu tô aqui com mais um capítulo dessa saga. Já li alguns outros, mas a carga de trabalho tá demais e, a não ser que vocês queiram negociar meus prazos com meus chefes, o ritmo de resumo vai ser esse, malzaê.
Como anunciado no fim do capítulo anterior, Naná ficou de arranjar a sessão de fotos com Christian no dia seguinte e liga pra contar a novidade a Kate, que fica toda, “nossa, mas o que que ele foi fazer aí na loja? É muita coincidência, miga, acho que ele foi lá te ver, hein, te deu até o número do cel dele, acho que tá rolando um clima?” e Naná naquelas, “‘magina, menina!”. Depois de mais uma cena em que Naná rejeita alguém pra sair (Paul, o mala da loja), temos toda uma passagem em que as duas tentam convencer José Rodriguez a ser o fotógrafo e, oh!, ele aceita, então Naná liga pro Christian pra acertar os detalhes, passa aquele cagaço habitual tentando manter a calma e a Kate (que ainda não conhece Christian pessoalmente) fica “nooossa, você gosta dele também, dá pra ver”, e Naná só no “ai, deixa disso, eu fico só intimidada com ele”.
A sessão acontece na manhã seguinte em um hotel e Naná vai acompanhada de Kate, José e seu assistente. Nada de mais acontece, é só isso mesmo que Naná tinha previsto: ele ia tirar fotos e ela ficar olhando do cantinho. Terminada a sessão, Grey se despede de todos e pede pra falar com Naná em particular, e Naná “VISH, o que é que eu fiz de errado?”, sendo que, novamente, ela não era responsável por coisa alguma em relação ao jornal, então dificilmente poderia ser acusada de fazer algo errado. Aí ele diz “queria saber se você quer tomar café comigo” e ela pensa “ai, um encontro!!!” (gloriadeus) mas um segundo depois se pergunta se de repente ele só achou que ela NÃO ACORDOU AINDA. Tipo “achei você meio lerda, vamos tomar um café pra quem sabe você acordar?”. Olha, Naná, o limite da minha paciência é maior do que o que eu julgava.
Naná então vai avisar ao pessoal que não vai voltar com eles porque vai tomar café com Christian e Kate, que agora conhece Christian, basicamente diz “miga, sai daê, cê vai morre”, ou, nas palavras dela: “ele é lindo, concordo, mas acho que é perigoso, especialmente para alguém como você”. Naná não entende o que quer dizer “alguém como você” e Kate diz “alguém inocente como você”. Inocente. A palavra do dia é “eufemismo”.
Então lá vai Naná ao seu 1º encontro com o sr. Grey, que pretende bater uma real, dizer que é o tal, bater um papo no café. Naná odeia café. Naná não sabe sobre o que conversar com ele. Subitamente me lembro do encontro de Macabéa e Olímpico de Jesus. De repente, ela poderia dizer “eu gosto tanto de prego e parafuso, e o senhor?”. Seria Naná a reencarnação de Macabéa? Seria Christian Grey o estrangeiro que a cartomante previu que se casaria com ela? São questões. Fica aí a ideia, se alguém quiser escrever uma fanfic sobrenatural que cruze “A Hora da Estrela” e “50 Tons de Cinza”. Talvez essa história melhore se a gente jogar uns “(explosão)” aqui pelo texto. A ver.
Eles andam do hotel ao café de mãos dadas e Naná nos revela que ninguém nunca segurou sua mão. Que dó.
No café, Naná toma chá e tenta conversar sobre como gosta do chá, ao que Christian rebate perguntando se algum dos rapazes que ele conheceu é namorado dela. “Por que você quer saber?”. Só Naná, mesmo. Então eles têm toda uma conversa sobre as impressões que um têm do outro, que nada mais é do que uma versão estendida da tal entrevista do 1º capítulo: Christian é poderoso, arrogante e gosta de controle (“em tudo”) e Naná é isso aí que vocês estão vendo. Ao fim do encontro, caminhando de volta para o hotel, Naná acha sensato perguntar se ele tem namorada e ele responde que não se interessa em ter namorada. Naná fica mais confusa do que nunca com esse conceito desconhecido. Será que no fim das contas ele é mesmo gay? Em sua confusão, Naná (explosão) tropeça e cata cavaco pela 2ª vez em três capítulos.
Não só a queda, mas um atropelamento por um ciclista na contramão (enquanto Fofão sobe no muro e toca a 2ª música mais triste do Linkin Park) são evitados porque Christian puxa sua mão e a segura firme junto de si. O capítulo termina com Naná meio em pé e meio na sarjeta, ali abraçada e inebriada com o cheiro de Christian, olhando pra cara dele, viajando na maionese, esperando que ele leia seus pensamentos e lhe beije.
Perdoem o suspense, mas é tudo o que temos para o momento.
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10/02/2015
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50 TONS DE CINZA, LIVROS
50 TONS DE “AMIGA, PARE”
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Um dos temas propostos pelo Desafio Literário do Tigre é “livro proibido em algum país”. Eu dei uma olhada em algumas listas pela internet afora e acabei descobrindo que já li a maioria. O desafio permite releituras e eu poderia resenhar Harper Lee ou Nabokov, mas acabei tendo uma ideia torta: vou sair correndo atrás do bonde do Zeitgeist gritando “peraê, motô!!!” e ler “Cinquenta Tons de Cinza”. “Mas por que você vai ler um livro que todo mundo cuja opinião você respeita acha uma porcaria, Letícia? Você não tem mais o que fazer? Já não tem resenha suficiente desse livro por aí?”, vocês me perguntam. A resposta é, simplesmente: eu sou bocó. Resolvi ler pra falar mal com propriedade. Não acredito em guilty pleasure, mas adoro um hate-reading/hate-watching.
O problema é que o livro é tão ruim que eu decidi que fazer a resenha não seria suficiente, então decidi ir dividindo minhas impressões aqui no blog enquanto vou lendo. Não sei quanto tempo isso vai durar. Segurem na minha mão e talvez eu dê conta.
O livro é narrado em 1ª pessoa por Anastasia Steele. O que falar dessa mocinha que eu mal conheço e já considero otária pra caramba? ❤ Naná é uma universitária de 21 anos e se apresenta pra gente se odiando na frente do espelho, tentando domar o cabelo com uma escova. Ná, miga, cê nem perguntou, mas tenho aqui uma dica ótima, se chama pente antiestático. Eu uso desde criança, é uma beleza pra quem tem o cabelo fininho. Esse que eu tenho é da Argentina, mas aí nos States deve ter também.pente-argentino-antiestatico-com-cheiro-de-rosas-14691-MLB91942519_9590-O_zpsuk1nyt3s
A falta de autoestima de Naná (que não só briga com o próprio cabelo, mas tem algum problema com sua pele pálida e grandes olhos azuis – oh, céus) me lembra aquela cena de “Mean Girls” (esse clássico dos nossos tempos) em que a patotinha da Regina George tá na frente do espelho, cada uma reclamando de um defeito inexistente, aí a Lindsay Lohan se sente obrigada a inventar um e diz que tem mau hálito de manhã. Porque né, imagina que ABSURDO a pessoa gostar plenamente de si mesma? Imagina uma protagonista que já chega metendo o pé na porta, se olhando no espelho e dizendo “VSF, EU TÔ GATA”? (Taí um livro que eu gostaria de ler.)
Naná está se preparando pra quebrar um galho pra roommate Kate, que tá tipo gripada em Cristo e tem uma entrevista marcada com “um magnata aí” pro jornalzinho da facul, que foi marcada 9 meses antes. Observe que Naná não tem nada a ver com o jornal ou coisa alguma, era só a trouxa mais próxima pra amiga passar a incumbência. Tendo um grau de autoestima -23, Naná deixa de lado a cacetada de coisas que tem que estudar e aceita ir pela coleguinha, que ela descreve com admiração (mas que logo descobrimos que é uma tonta que mal sabe fazer o próprio trabalho).
Chegando à Grey House, Anastasia já fica intimidada pelo local em si, depois pela secretária loira e bem vestida que a recebe na portaria e, consequentemente, pelas próximas duas secretárias loiras e bem vestidas (loiras “Um, Dois e Três” – juro!) que a recebem no último andar, o do escritório do sr. Grey. Naná, essa menina, olha, gente, eu vou dizer. Até o elevador intimida essa menina. Acho que ela deve imaginar que o sr. Grey é o Willy Wonka (o que explicaria as loiras: Oompa-Loompas). Ela se intimida tão à toa que as loiras que ela julga tão superiores a ela se enrolam durante uma página inteira pra lhe trazer um copo d’água totalmente desnecessário à narrativa. A essa altura eu não tenho a mínima ideia se toda mulher que apareceu no livro até agora é incompetente de propósito.
Aí chega o ~grande momento~ que tá sendo usado como tagline pra divulgar o filme: “Mr. Grey will see you now”. Aí a criatura vai entrar no escritório, tropeça e cai de cara no chão. ¯\_(ツ)_/¯
O sr. Grey (que você tem aí a liberdade de visualizar como quiser) a ajuda a se levantar e eles se apresentam, no que Naná sente um choque ou sei lá o quê ao apertar sua mão (afinal de contas, esse livro nasceu como fanfic de “Twilight”) e eu fiquei com essa música do MGMT na cabeça. Naná conversa tão mal quanto anda. A entrevista é um fiasco. Adivinha se Naná se deu ao trabalho de ler as perguntas antes? É claro que não. Ela pergunta na lata se o cara é gay, porque se a Kate julgou relevante (competentíssima a garota, vejam) e colocou no papel, ela tem que perguntar, né? Porém, quanto mais a menina passa vergonha, mais o cara parece ficar interessado nela, repetindo (por mais vezes do que consegui contar) o gesto de passar o dedo indicador por cima do lábio inferior. As descrições do olhar de predador que vigia a presa são tão ridículas que a essa altura o “meu” Christian Grey é uma mistura de Drácula com Grinch. Eu imagino que quando está sozinho, bolando um plano maligno, ele ria fazendo “MWAHAHAHA!”, com a cabeça jogada pra trás. Ah, e é claro, durante toda a entrevista ele fala pelo menos 4 vezes que gosta de controle em todas as áreas de vida dele. O QUE SERÁ QUE ELE ESTÁ INSINUANDO?, EU ME PERGUNTO. Tá pouco de indireta, tá muito sutil, manda mais (o que é verdadeiro para nossa Naná, que pensa enquanto dirige de volta pra casa: “algumas das respostas dele eram muito enigmáticas – como se ele tivesse intenções ocultas”. Deus ajude essa menina, que eu já tô quase desistindo). Tendo diante de si uma entrevistadora tão incompetente, Christian faz coisa óbvia a se fazer ao fim da entrevista: oferece um estágio a Naná, que prontamente recusa, porque não sabe andar, não sabe se vestir e não é loira o suficiente. Dentro desse diálogo, somos agraciados pela passagem: “seu olhar é intenso, agora desprovido de humor, e músculos desconhecidos dentro da minha barriga de repente se contraem”. (Tô rindo.)
Assim acaba o 1º capítulo e o 2º é basicamente Naná buscando forças que a ajudem, Lázaro, a entender por que ela ficou tão abalada na presença daquele homem e o que seria isso que ela está sentindo, porque até dirigir devagar e com cuidado ela tá dirigindo, só porque ele recomendou. Aí ela chega em casa e dá uma chamada na colega por não ter dado mais info que a ajudasse na entrevista, fala pelo telefone com a mãe, que obviamente é do tipo “preocupada porque a filha ainda não casou” e somos apresentados a José Rodriguez (um nome latino originalíssimo), seu amigo e fotógrafo que é obviamente interessado nela, mas por quem ela não é atraída, já que nesse livro não existe espaço para atração por ninguém que não seja Christian Grey.
Como toda a conversa sobre controle durante a entrevista não foi suficiente pra preparar o terreno para o que está por vir nesse livro, temos uma cena hilária em que ninguém menos que o próprio Christian aparece “por acaso” (coisa que ele mesmo diz em uma voz descrita como “caramelo e chocolate derretido… ou algo assim”) na loja de materiais onde Naná trabalha e compra umas coisinhas básicas, tipo braçadeiras de plástico, corda e fita adesiva, ao que ela fica novamente muito confusa, porque esse não parece o tipo de homem que faz serviços de reforma na própria casa. Qual será o hobby desse cara? Hmm.
Aí os dois estão tendo algo que parece uma conversa, combinando uma sessão de fotos para o tal artigo do jornal, apesar de Anastasia quase desaprender a falar nessa presença tão intimidadora. Então chega mais um mala que é interessado por ela e pra quem ela não dá bola: Paul, irmão do patrão. Sentindo cheiro de concorrência, Christian fica repentinamente fechado. Naná se pergunta se foi algo que ela falou. Como é trouxa! Se isso fosse um thriller, já teria morrido há umas 10 páginas.
Naná termina o capítulo finalmente admitindo para si que se sente atraída por Christian e anseia pelo dia seguinte, quando – se ela conseguir um fotógrafo e, nossa, ela tem um amigo fotógrafo, SERÁ QUE ELA VAI CONSEGUIR? – poderá passar o dia observando ele de longe durante a sessão, tipo CharlieBrownJr-ZoiodeLula.mp3. Oremos por essa alma inocente.
2j5lw13
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E isso é tudo por hoje, amigos. Pode ser que isso vire uma série de posts. A ver.
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Vocês são uns queridos e pediram com jeitinho, então escrevi mais um post, que você pode ler aqui.