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Traduzido por: Livro Editado em Português do Brasil
Páginas: 100
Ano de edição: 2009
Peso: 145 g
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A história de um tempo da vida de Ferreira Gullar, narrada num só poema, onde ele revela a sordidez e a impureza do cotidiano humano em passagens comoventes que surgiram com a inspiração de "escrever um poema que fosse o meu testemunho final, antes que me calassem para sempre".
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu eu
tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas
de banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
ão era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era ...
Perdeu-se na carne fria
perdeu-se na confusão de tanta noite e tanto dia
perdeu-se na profusão das coisas acontecidas
constelações de alfabeto
noites escritas a giz
pastilhas de aniversário
domingos de futebol
enterros corsos comícios
roleta bilhar baralho
mudou de cara e cabelos mudou de olhos e risos mudou de casa
e de tempo: mas está comigo está
perdido comigo
teu nome
em alguma gaveta
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Ferreira Gullar era, talvez, a figura mais marcante e mais importante da FLIP 2010, em Parati, RJ, que foi realizada no mês de agosto. Ele desfilou como uma personalidade rara, cara e com muita simpatia. Confesso que torço o nariz para a grande maioria dos poetas, claro com as exceções da praxe como João Cabral de Melo Neto, Camões, Dante Alighieri, Drumond , Cecilia Meireles e outros menos votados. Nunca tinha me dado o trabalho de ler Ferreira Gullar, nem na sua coluna do jornal O Globo. Achava ele um chato de galocha. Mesmo tendo assistido a sua apresentação na FLIP, não mudei minha opinião. Na livraria que funcionava anexa ao pavilhão da FLIP, perguntei qual o melhor livro dele e me indicaram “Poema Sujo.” Comprei por obrigação. Deixei o livro na fila de leituras. Em abril de 2013 fiz uma viagem à Italia e levei o livro para leitura de bordo. Desde então coloquei o nome do poeta na lista dos maiorais que citei antes. Ele é mesmo um craque, um campeão, um poeta maior.
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