Elias Marinho
24/09/2013 às 13:06
Santa Maria - DF
Gostava da escola. Em pouco tempo aprendi hinos, poesias patrióticas, jogos diversos e a até ler e escrever. Dona Carolina, chegada a festas, vivia inventando novidades.
Ao chegar à escola, certa manhã, fui avisada de que não haveria aula pois estourara uma revolução na cidade. Voltei apressada, doida para contar a novidade. Cheguei tarde, todos lá em casa já estavam no maior alvoroço, cientes do acontecimento. Mamãe demonstrava sua aflição andando de um lado para outro, como barata tonta. Ninguém conhecia detalhes da tal revolução, mas falava-se no nome de Isidoro Lopes, chefe da revolta.
Por fim, mamãe tomou uma decisão: apanhou a caderneta da venda – pagávamos as contas no fim de cada mês, tudo o que comprávamos era assentado na caderneta – e saiu acompanhada dos três filhos mais velhos, para ajuda-la a trazer os mantimentos que ela se dispunha a armazenar, com o objetivo de se garantir para qualquer eventualidade. A venda de seus Henrique, na Avenida Rebouças, àquela hora da manhã, já havia cerrado as portas, ficando apenas um vão aberto. Só permitiam a entrada a fregueses antigos; ainda assim, mamãe teve dificuldades em conseguir romper o cerco do povo aglomerado na calçada, ameaçando assaltar o empório.
Papai eram quem mais se preocupava; logo agora que começara a tomar pé da vida... Os carros haviam chegado recentemente – dois já estavam vendidos mas a firma pedira aos compradores que os deixassem em exposição, enquanto preparava os papéis para o emplacamento. Assim aproveitaria mais uns dias a propaganda feita pelos próprios automóveis, em frente às vitrinas havia sempre gente a contemplar os quatro belos carros, tão cheios de novidades! Outros “Alfa”, já encomendados, estavam a caminho do Brasil. E agora? Em plena revolução, numa clima de incerteza, quem iria comprar carro novo?