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A história de Miles que foi para a Escola Culver Creek, em Birmingham, Estado do Alabama nos EUA. Era um colégio e internato famoso, onde os alunos que conseguissem concluir os seus cursos se credenciavam “com destacado louvor” para frequentar as melhores universidades. Logo fez amizade com seu colega de quarto, Chip Martin, mais conhecido como Coronel, que lhe apresenta Alasca, uma garota linda, inteligente e gostosa, por quem Miles se apaixona. Miles era calouro. Coronel, Alasca, Takumi e Lara eram alunos antigos e – como tal experientes. Alasca é misteriosa, enigmática, às vezes problemática e Miles cai na rede dela.
Alasca deitou-se de costas, com as mãos entrelaçadas atrás da cabeça. Ela falava baixo e depressa, mas o dia silencioso estava se tornando uma noite ainda mais silenciosa, e sem o barulho dos insetos - agora que o inverno havia chegado -, nós a ouvíamos perfeitamente.
- O dia depois que a minha mãe me levou ao jardim zoológico, em que ela gostou dos macacos e eu, dos ursos, era sexta-feira. Eu tinha acabado de chegar da escola. Ela me abraçou e disse para eu ir para o meu quarto fazer o dever de casalogo, para eu ver tevê mais tarde.
Fui para o quarto, e ela se sentou à mesa da cozinha, acho, e do nada deu um grito.
Eu saí correndo e vi que ela tinha caído. Estava deitada no chão, com as mãos na cabeça e tendo convulsões. Eu surtei. Devia ter ligado para a emergência, mas só conseguia chorar e gritar,
até que ela finalmente parou de se mexer.
Achei que ela tivesse dormido e que o que quer que estivesse doendo não estivesse mais.
Então me sentei no chão ao lado dela e esperei o meu pai chegar, uma hora depois.
Ele só gritava "Por que você não ligoupara a emergência?", e tentou reanimá-Ia, mas ela já estava totalmente morta àquela hora. Aneurisma.
Pior dia. Eu ganho. Vocês bebem.
E nós bebemos.
Durante um minuto ninguém falou nada.
- O seu pai culpou você? - perguntou Takumi.
- Bom, não na hora. Mas sim. Como ele podia não me culpar?
- Mas você era só uma criança - argumentou Takumi.
Eu estava surpreso e desconfortável demais para falar, tentando encaixar isso no que eu sabia sobre a família da Alasca. A mãe contou a piada do "toe-toe" quando Alasca tinha seis anos. A mãe dela era fumante, mas não fumava mais, é óbvio.
- É, eu era uma garotinha. Crianças podem ligar para a emergência. Elas fazem isso o tempo todo.
Passe o vinho - disse ela, fria e indiferente. Bebeu sem levantar a cabeça do feno.
- Sinto muito - disse Takumi.
- Por que você nunca me contou? - perguntou o Coronel, com a voz calma.
- Nunca surgiu uma oportunidade.
Então paramos de fazer perguntas. O que mais poderíamos falar?
No longo silêncio que se seguiu, enquanto passávamos o vinho e aos poucos íamos ficando mais bêbados, eu me peguei pensando sobre William McKinley, o terceiro presidente americano a ser assassinado. Depois de levar o tiro, ele ainda viveu por vários dias, e, perto do fim, a sua mulher começou a chorar e a gritar.
"Eu quero ir também! Eu quero ir também!"
E com as suas últimas forças, McKinley virou-se para ela e disse: "Todos nós iremos."
Aquele era o momento central da vida de Alasca. Agora eu sabia o que ela queria dizer quando me contou, chorando, que sempre arruinava tudo. E quando disse que sempre falhava e deixava todo mundo na mão, agora eu sabia a quem ela estava se referindo.
Aquele momento foi o "tudo" e "todos" na vida dela. Foi inevitável imaginar uma garotinha magra de oito anos e com os dedos sujos olhando para a mãe estendida no chão tendo convulsões. Então ela se
sentou ao lado da mãe talvez-morta-talvez-não, que, suponho, não devia estar mais respirando, mas também não estava fria ainda.
E, durante a agonia da sua mãe, a pequena Alasca ficou ao seu lado em silêncio. E então, através do silêncio e da minha bebedeira, eu tive um vislumbre do que aconteceu com ela.
Ela deve ter passado a se sentir muito impotente, já que a única coisa que poderia ter feito, pegar o telefone e chamar uma ambulância, nunca nem passou pela sua cabeça. Chega uma
hora em que tomamos consciência de que os nossos pais não podem se salvar nem nos salvar, que todo mundo é arrastado pelas ondas para o fundo do mar - para onde, em suma, todos nós iremos.
Então ela se tornou uma pessoa impulsiva, transformando o medo da inércia em um estado de ação permanente.
Quando o Águia a confrontou com a expulsão, talvez ela tenha soltado o nome de Marya por ter sido o primeiro a passar pela sua cabeça, porque ela não queria ser expulsa e não conseguia pensar
em mais nada além daquilo. Ela estava com medo, com certeza, mas, principalmente, com medo de novamente ficar paralisada de medo.
"Nós todos iremos", disse McKinley à mulher. Com certeza iremos. Aí está o seu labirinto de sofrimento. Nós todos iremos. Descubra como escapar desse labirinto.
Eu não falei nada disso para ela. Nem naquela hora nem nunca. Nós nunca mais tocamos no assunto. Tornou-se apenas mais um pior dia, apesar de ser o pior do grupo, e enquanto a noite caía rápido,
nós continuamos bebendo e nos divertindo.
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Estava de olho em “Quem é Você Alasca?” por causa de seu autor: John Green, que escreveu A Culpa é das Estrelas. Não me recordo se ganhei de presente no final de ano, num daqueles cansativos e sem graça “amigo oculto” ou se o comprei em dezembro de 2014. O levei em minha bagagem para leitura na praia, durante o recesso. Ficou um pouco estragado porque leitura na praia acaba molhando e engordurando o papel. Mas valeu a pena.
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