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Análise do economista francês Thomas Piketty sobre o capitalismo, que no século XXI possui forte tendência de concentração da riqueza nas mãos de poucos. O crescimento econômico ao longo do século XX impediu que se realizasse o cenário apocalíptico difundido por Karl Marx, mas, a estrutura do capital e da desigualdade permaneceu inalterada. Piketty constata, com absoluta clareza, que a taxa de rendimento do capital supera o crescimento econômico — e isso se traduz numa concentração cada vez maior da riqueza, sem contar um círculo vicioso de desigualdade que pode levar a uma desorganização geral e inclusive ameaçar a democracia. Ressalta que "tendências econômicas não são forças da natureza: a intervenção política já foi capaz de reverter tal quadro no passado e poderá voltar a fazê-lo."
De Marx a Kuznets: do apocalipse ao conto de fadas
Passando das análises de Ricardo e Marx no século XIX para os estudos de Simon Kuznets no século XX, pode-se dizer que o gosto excessivo dos economistas pelas previsões catastróficas deu lugar a uma atração não menos excessiva pelos contos de fadas, ou ao menos pelos happy endings.
Segundo a teoria de Kuznets, a desigualdade de renda deveria diminuir de modo automático nos estágios mais avançados do desenvolvimento capitalista de um país, a despeito das políticas adotadas ou das diferenças entre países, até que se estabilizasse num nível aceitável.
Elaborada em 1955, trata-se de uma teoria sobre os anos mágicos do período pós-guerra que na França ficaram conhecidos como os “Trinta Gloriosos”, o intervalo compreendido entre 1945 e 1975.
Para Kuznets, bastava ter paciência e esperar que o crescimento começasse a beneficiar a todos. A filosofia da época podia ser resumida em apenas uma frase: “Growth is a rising tide that lifts all boats” (“O crescimento é como a maré alta: levanta todos os barcos”).
Otimismo semelhante foi proposto por Robert Solow em 1956, quando analisou as condições que levariam uma economia a alcançar a “trajetória de crescimento equilibrado”, isto é, um crescimento em que todas as variáveis macroeconômicas — produção, renda, lucros, salários, capital, cotações de bolsa de valores e de mercado imobiliário etc. — se expandem no mesmo ritmo, de modo que cada grupo social se beneficia do crescimento nas mesmas proporções, sem grandes discrepâncias.
Tal visão é a antítese da espiral de desigualdade identificada por Ricardo ou Marx, bem como o oposto das análises apocalípticas do século XIX. Para transmitir ao leitor a influência considerável da teoria de Kuznets no pensamento dos anos 1980 e 1990 e, em certa medida, também no pensamento atual, é preciso salientar que se trata da primeira teoria sobre crescimento e desigualdade fundamentada num extenso trabalho estatístico.
Foi preciso chegar a meados do século XX para que as primeiras séries históricas sobre a distribuição de riqueza estivessem disponíveis, com a publicação em 1953 da obra monumental de Kuznets, Shares of Upper Income Groups in Income and Savings [Participação dos grupos de renda alta na renda nacional e na poupança]. As séries compiladas por Kuznets se referem a um único país, os Estados Unidos, e compreendem um período de 35 anos (1913-1948).
Trata-se, contudo, de uma contribuição fundamental, que mobilizou duas fontes de dados totalmente inacessíveis aos autores do século XIX: as declarações do imposto federal sobre a renda instituído em 1913; e as estimativas da renda nacional dos Estados Unidos, elaboradas pelo próprio Kuznets alguns anos antes.
Foi a primeira tentativa de medir a desigualdade social em escala tão ambiciosa.
É importante compreender que, sem essas duas fontes indispensáveis e complementares, seria simplesmente impossível medir a desigualdade da distribuição de riqueza e a sua evolução.
As primeiras tentativas de estimar a renda nacional datam do fim do século XVII e do início do século XVIII, tanto no Reino Unido como na França. Houve outras ao longo do século XIX, mas foram esforços isolados.
Seria preciso esperar o século XX e o período entreguerras para que se desenvolvessem — por iniciativa de pesquisadores como Kuznets e John W. Kendrick nos Estados Unidos, Arthur Bowley e Colin Clark no Reino Unido ou L. Dugé de Bernonville na França — as primeiras séries anuais da renda nacional. Esse tipo de série permite mensurar a renda total de um país. Para medir a participação do grupo de renda mais alta na renda nacional, é preciso dispor das declarações de renda.
Essa segunda fonte de informação se tornou disponível quando todos os países passaram a adotar a tributação progressiva sobre a renda, por volta da Primeira Guerra Mundial (1913 nos Estados Unidos, 1914 na França, 1909 no Reino Unido, 1922 na Índia e 1932 na Argentina).
É preciso reconhecer que, ainda que não exista um imposto sobre a renda, há outras estatísticas relacionadas a ela para qualquer que seja o regime tributário em vigor num determinado momento (há, por exemplo, impostos sobre o número de portas e janelas de um imóvel para cada departamento na França do século XIX, o que é bastante curioso).
Esses dados, entretanto, nada nos revelam diretamente sobre a evolução e a distribuição da renda. Aliás, antes que a obrigação de declarar renda e impostos às autoridades fosse estabelecida por lei, as pessoas muitas vezes não sabiam qual era a renda que de fato recebiam.
O mesmo se deu com o imposto de renda de pessoas jurídicas e com o imposto sobre o patrimônio.
A tributação não é somente uma maneira de fazer com que os indivíduos contribuam para o financiamento dos gastos públicos e de dividir o ônus disso da forma mais justa possível; ela é útil, também, para identificar categorias e promover o conhecimento e a transparência democrática.
Em todo caso, os dados que Kuznets coletou permitiram que ele calculasse a evolução da participação, na renda nacional americana, de cada décimo e centésimo mais alto da hierarquia da distribuição de renda.
Eis o resultado: Kuznets constatou que uma forte redução da desigualdade de renda havia ocorrido nos Estados Unidos entre 1913 e 1948. Mais especificamente, na década de 1910, o décimo superior da distribuição, isto é, os 10% mais ricos entre os americanos, recebiam 45-50% da renda nacional anual.
No final dos anos 1940, a participação na renda nacional dos 10% mais ricos havia caído para cerca de 30-35%. Essa queda de mais de dez pontos percentuais da renda nacional era considerável: equivalia, por exemplo, à metade do que recebiam os 50% mais pobres do país.
A redução da desigualdade era, portanto, nítida e incontestável, e essa revelação teve uma importância tremenda, com enorme repercussão nos debates econômicos do pós-guerra, tanto nas universidades quanto nas organizações internacionais.
Havia décadas que Malthus, Ricardo, Marx e tantos outros falavam de desigualdade, mas sem citar fontes, sem apresentar metodologias que permitissem comparar com precisão as diferentes épocas ou mesmo definir o debate a favor de uma ou outra tese concorrente.
Pela primeira vez, dados concretos estavam disponíveis para consulta e estudo e, embora não fossem perfeitos, ao menos tinham o mérito de existir. Além disso, o trabalho de compilação das estatísticas foi muito bem documentado: o volumoso compêndio publicado por Kuznets em 1953 expunha da forma mais transparente possível todos os detalhes sobre suas fontes e seus métodos, de maneira que cada cálculo pudesse ser reproduzido.
E Kuznets foi, além de tudo, o portador de notícias auspiciosas: a desigualdade estava diminuindo.
Autor: Anna Sylvaine Chassany
Veículo: Eu e Fim de Semana, 3/7/2015, nº 654 Ano 16
Fonte: Jornal Valor Econômico
A crise grega reflete a escolha européia da "penitência eterna", em vez da organização política necessária, diz o economista francês. Por Anne-Sylvaine Chassany, do Financial Times
A Europa está na rota errada
Tradução Sergio Blum
Um piquenique ao sol no gramado da Escola de Economia-de Paris teria sido melhor, mas é tarde. Ficamos, então, no Les Jardins, de Paul Ha, padaria convertida em delicatessen no 14º arrondissement
Thomas Piketty já está mordendo um ovo cozido. São cinco minutos do escritório do economista "rock star", corno a mídia o chama, mas é difícil encontrar glamour aqui ou em sua vida nos últimos tempos.
O sucesso de "O Capital no Século XXI", de Piketty, best-seller de 700 páginas, lançou-o num turbilhão de exposição por um ano. Mas agora ele anseia por normalidade. E estamos em um salão deserto, fazendo nossa refeição de comida servida em recipientes de plástico sobre bandejas azul-escuro. Na parede a nosso lado, um desbotado cartaz de uma praia nas Ilhas Seychelles. "Tive períodos promocionais e de conferências, do que gosto bastante, mas preciso voltar à vida normal", diz Piketty, cruzando as pernas e apoiando-se na cadeira vazia a seu lado. "Vida normal é estar sentado à minha mesa das 9h às 7 h sem ninguém me incomodando. As pessoas não percebem que pesquisa requer tempo e sossego."
Tive um vislumbre do habitat natural de Piketty quando apanhei o economista de 44 anos em seu abafado escritório de 12m² em um edifício cinza do pós-guerra que é a sede de uma instituição de pesquisas que ele ajudou a criar em 2006.
Ao afirmar que o capitalismo, por sua natureza, agrava a desigualdade, "O Capital no Século XXI" (publicado primeiro em francês, em 2013, e em inglês, oito meses depois) causou furor transatlântico, opondo defensores de intervenção estatal aos crentes no livre mercado. Embora a extensa compilação, no livro, de dados sobre a distribuição de renda e de riqueza tenha sido amplamente elogiada, as teorias e conclusões de Piketty-de que a proporção de renda e riqueza apropriada pelo segmento 1% mais rico atingiu um pico histórico; que o retomo sobre o capital geralmente supera o crescimento econômico, resultando em um aumento automático da desigualdade - também foram atacadas. Ao defender impostos mais elevados e mais regulamentação, ele foi louvado pela esquerda e tomou-se um inimigo da direita.
Enquanto espero que minha "pasta bolognese" saída do microondas esfrie, pergunto como é sentir-se uma celebridade. Piketty, que veste uma camisa azul-claro justa no corpo e com as duas primeiros casas desabotoadas, diz que estará "tudo bem", se ajudar a vender mais livros. Dois milhões de cópias foram compradas até agora, diz, com evidente prazer. "O sucesso do meu livro mostra que há muita gente, que não é economista, cansada de ouvir dizer que essas questões são complicadas demais para elas", comenta, pescando uma fatia de pepino embebida em maionese.
Piketty fala rápido e gesticula bastante. Mostra-se curioso sobre minha idade: "Você é mais jovem do que minha irmã". E pergunta sobre minha carreira. Ele exala autoconfiança.
"Muitas vezes, os economistas constroem modelos matemáticos complexos para dar a impressão de profundidade científica e impressionar as pessoas. Não tenho nada contra a matemática - minha formação inicial foi em matemática -, mas geralmente é usada para ocultar a falta de ideias. O que me agrada é que esse livro atinge as pessoas 'normais', um público muito amplo. Minha mãe é um exemplo", diz. Acrescenta que ela raramente lê livros acadêmicos grandes, mas compreendeu tudo no livro dele.
Quando pergunto se as tendências esquerdistas da família tiveram algo a ver com seu interesse inicial pelo tema da desigualdade, ele descarta a ligação. Política não era discutida em casa. Quando jovens, seus pais eram militantes trotskistas no Lutte Ouvriêre, mas deixaram o partido de extrema-esquerda antes de ele nascer. Como muitos jovens radicais vivendo no pós-maio de 1968 na França, sentiram-se seduzidos pela vida no campo e mudaram-se para fora da capital em meados da década de 1970. Durante três anos, criaram cabras e vendiam queijo nos mercados em Castelnau-d’Aude, aldeia perto de Narbonne, no sul da França. Embora nenhum dos pais tenha bacharelado, o diploma escolar nacional do curso secundário, a mãe de Piketty fez um curso noturno para ser professora primária. Seu pai tomou-se um pesquisador no Institut National de La Recherche Agronomique.
Ambos comemoraram quando o socialista François Mitterrand foi eleito presidente, em 1981. "Esperaram muito até que a esquerda chegasse ao poder", diz Piketty. Mas seu avô por parte de pai, "de formação burguesa", votou a favor do candidato de centro-direita, Valéry Giscard d'Estaing. "Como em qualquer outra família, alguns votam na esquerda, alguns votam na direita. Amo todos."
Seus pais nunca o pressionaram. Ao contrário. Pouco tiveram a ver com o fato de ter entrado na Escola Normal Superior, uma das mais competitivas "grandes êcoles" francesas, com apenas 18 anos ou por ter sido professor no Massachusetts.Institute of Technology após receber um Ph.D. aos 22. Mas lhe ensinaram "autonomia, em confiar em mim mesmo" - a mesma orientação que procura passar a suas três filhas, Juliette, 18, Deborah, 15, e Hêlêne, 12.
Estou determinada a dar à "pasta bolognese" uma chance, mas o fusilli molengo, cozido em demasia, traz-me lembranças da minha cantina escolar. Tendo em vista a história de controvérsia entre Pikaetty e o "Financial Times", me pergunto se o lugar escolhido para o almoço pode ser uma forma de retaliação. Piketty referiu-se ao controvertido artigo que identificou discrepâncias em sua pesquisa logo que entramos na deli, dizendo que não queria custar muito ao "Fl", considerando toda a "publicidade gratuita" que o jornal lhe proporcionou.
A análise do "Fl" questionou a conclusão de Piketty, de que a desigualdade de riqueza havia aumentado no Reino Unido. Ele respondeu em detalhes e defendeu sua metodologia. Argumentou que, mesmo se as criticas fossem corretas, as inconsistências não mudariam suas conclusões. "O FI? Nunca o leio.
Desculpe, não deveria ter dito isso. Acho que é um pouco previsível. Sabe, quando leio as duas primeiras frases, sinto que já sei o que vem depois. Tudo bem, nem sempre. E então veio o prêmio. Tudo pareceu um pouco confuso", diz, referindo-se ao fato de que "O Capital no Século XXI" ganhou o prêmio Ff & McKinsey Business Book of the Year 2014.
Seria um erro, continua, o "Fl" negar a ampliação das desigualdades no Reino Unido "para defender o interesse de seus leitores". Ao objetar, ocorre-me que Piketty pensa que estou aqui para representar os interesses do 1% mais rico.
Quando combinamos de nos encontrar, ele disse que iria caminhando até "um bar simples que sirva salada e sanduíche", enfatizando que "a despesa poderia interessar aos leitores do 'FI"".
Piketty diz que seu interesse por desigualdade cristalizou-se após a queda do Muro de Berlim e a primeira guerra do Golfo. Lembra-se de ter visitado Moscou em 1991 e de seu espanto com "as filas à frente das lojas".
Voltou vacinado contra o comunismo. ''Acredito no capitalismo, na propriedade privada, no mercado." Mas também trouxe uma questão central para seu trabalho: "Como é que essas pessoas tinham ficado com tanto medo da desigualdade e do capitalismo nos séculos XIX e XX a ponto de criarem tal monstruosidade? Como podemos enfrentar a desigualdade sem repetir esse desastre"?
Para ele, a guerra do Golfo demonstrou o cinismo do Ocidente: "Dizem-nos o tempo todo que os Estados não podem fazer nada, que é impossível regulamentar as Ilhas Cayman e outros paraísos fiscais, porque são muito poderosos, e de repente mandamos um milhão de soldados a 10 mil quilômetros de casa para permitir que o emir do Kuwait conserve seu petróleo."
Já estou na metade da "bolognese", quando pergunto por que seu trabalho teve impacto tão grande nos EUA e não causou nenhum burburinho na França quando saiu a primeira edição.
Piketty diz que chamou a atenção nos EUA, em 2003, quando, com Emmanuel Saez, economista francês que leciona na Universidade da Califórnia, compilou os primeiros dados históricos sobre as pessoas mais ricas no país. Em 2009, o recém-eleito presidente Obama usou um gráfico elaborado pelos economistas franceses para mostrar que a desigualdade estava de volta a seu pico de 1929. "Nos tornamos alvo de 'think-tanks' republicanos." A versão francesa do livro funcionou como chamariz para os críticos, acredita, ajudando a impulsioná-lo ao topo da lista dos mais vendidos na Amazon durante três semanas, ao ser lançado em inglês.
"A ascensão dos que compõem o 1% mais rico é coisa americana. Não é por acaso que o movimento "Occupy Wall Street" aconteceu em Wall Street, e não em Bruxelas, Paris ou Tóquio", diz.
"É diferente na Europa. Aqui, a desigualdade assume a forma de desemprego e dívida pública."
Embora admita que o imposto global sobre a riqueza, que recomenda, seja um sonho "utópico", também diz que uma alíquota de tributação confiscatória superior a 80% sobre os lucros superiores a US$ 1 milhão produziria resultados.
Essa taxa vigorou durante as cinco décadas que antecederam o governo Reagan, e coibiria os exuberantes salários dos executivos sem comprometer a produtividade. "[Esse nível de tributação não matou o capitalismo americano na época - a produtividade cresceu no seu ritmo mais rápido naquele período", observa, "A ideia de que ninguém vai aceitar trabalhar duro por menos de US$ 10 milhões por ano...Tudo bem com pagar a alguém 10 ou 20 vezes o salário do trabalhador médio, mas precisamos pagar 100 ou 200 vezes para toparem trabalhar?"
Piketty aplaudiu François Hollande quando o presidente introduziu imposto de 75% sobre as rendas superiores a €1 milhão? "Ele só estava fazendo jogo de cena. Em primeiro lugar, porque não há tantas pessoas que ganham esse dinheiro na França. E por que, como você certamente sabe, a França é um país menor do que os EUA. As sedes [das empresas] podem ser transferidas para Amsterdã. É preciso ter cuidado."
Consciente de que o tema de riqueza pessoal é território complicado, mesmo assim decido testar o recém-adquirido status milionário de Piketty. Ele, portanto, deve ter sido submetido à alíquota de 75.%? Para minha surpresa, responde de boa-vontade e detalhadamente: o Estado vai cobrar entre 60% e 70% de seus lucros neste ano. "Um imposto de 90% não me incomodaria. Ainda sobraria bastante, estamos falando de vários milhões. Eu me beneficiei de um sistema educacional, de infraestrutura pública. E tive sorte, também. A ideia de que Bill Gates inventou o computador sozinho é piada. Sem pesquisadores em ciência da computação que não patentearam seu trabalho, quem o teria inventado?"
Piketty - que se separou da mãe de suas filhas há alguns anos e casou-se com Julia Cage, economista francesa de 31 anos que conheceu na Escola de Economia de Paris - não está fascinado pelo dinheiro. ''Tenho a sorte de ter um trabalho fabuloso, viver na cidade mais bonita do mundo, ter três filhas maravilhosas, uma mulher maravilhosa."
Espetamos os garfos de plâstico em nossos pedaços de abacaxi, já cortados em quadradinhos, e eles acabam por ser o ápice culinário do almoço.
Hollande "não tem conserto", diz Piketty, que rejeitou o prêmio Légion d'Honneur porque, disse na ocasião, o Estado não tem "o direito de decidir quem é honrado". O presidente descumpriu sua promessa de campanha de mudar a postura de austeridade predominante na Europa, prossegue. Isso o torna tão responsável quanto a chanceler alemã Angela Merkel pelos problemas da zona do euro.
"Substituímos Merkozy por Merkollande", diz. "A Europa está escolhendo a rota errada, o caminho da penitência eterna. Seria uma catástrofe forçar a Grécia a sair da zona euro". É irônico, acrescenta, que a austeridade esteja sendo imposta à endividada Grécia por dois países, Alemanha e França, que se beneficiaram do perdão da dívida após a Segunda Guerra - decisão que permitiu 30 anos de crescimento no continente. "Há algum tipo de amnésia coletiva. Esse cancelamento permitiu que os dois países investissem em educação, inovação e infraestrutura pública. Agora, esses mesmos países dizem à Grécia que terá de pagar 4% de seu PIB durante 30 anos. Quem pode acreditar nisso ?" O papel do FMI nas negociações gregas é uma "catástrofe".
A crise da zona do euro, de acordo com Piketty, reflete uma governança profundamente falha, em que apenas dois líderes decidem quem pode pedir "uma reforma democrática das instituições europeias. É simplesmente porque não somos capazes de nos organizar politicamente que estamos na m, .. até o pescoço", afirma. "De um ponto de vista macroeconômico, a Grécia é insignificante."
A zona do euro segue o exemplo do Reino Unido, diz, que passou o século XIX pagando sua enorme pilha de dívidas herdadas das guerras napoleônicas com excedentes orçamentários. Funcionou mas levou 100 anos, durante os quais o Reino Unido negligenciou seu sistema educacional.
Piketty torce para que o Reino Unido permaneça na União Europeia, e não opte por "tornar-se apenas um paraíso fiscal com um grande centro financeiro". Adverte, porém, que Londres precisa perceber que a Europa "não é sinônimo de lucrar com a livre circulação de mercadorias de seus vizinhos enquanto suga a base fiscal deles". Ele entende que melhor teria feito Tony Blair se tivesse aderido ao euro, em vez de enviar tropas ao Iraque. "Mas posso compreender porque a zona do euro não é atraente atualmente. Talvez em 2040. Quem sabe?”
Nos informam que cafés e crepes estão a caminho, mas Piketty está ansioso para voltar a seu escritório. Enquanto mordisco um "crêpe au sucre" aparentemente feito de borracha, segurando com os dedos, na ausência de talheres, negocio mais alguns minutos para saber dos planos da Piketty. "A pesquisa continua", diz. Ele está trabalhando para estender seu banco de dados de riqueza à América Latina e à África. Também concordou em dar aulas quatro dias por ano na London School of Economics. Mas, primeiro, vai levar "as meninas" numa viagem ao Marrocos no mês que vem. Antes de sairmos, peço a Piketty um autógrafo na conta. Ele é um "astro do rock", é claro, e aceita bem-humorado. "Sou muito jovem", diz, enquanto caminhamos sob o sol. ''Tenho mais livros para escrever."
(Tradução de Sergio Blum)
Autor: Hernando de Soto – Tradução Clara Allain
Veículo: Jornal Folha de São Paulo
Fonte: Folha de São Paulo, domingo 7 de junho de 2015, Ilustríssima pag. 5
Autor: Roda Viva - Roda Viva é um talk show brasileiro produzido e transmitido pela TV Cultura
Veículo: https://www.youtube.com/watch?v=6pcGuqxyVJs
Fonte: programa de entrevistas Roda Viva - TV Cultura
Autor: Matthew Yglesias
Veículo: Vox WebSite, 1º de abril de 2015
Fonte: http://www.vox.com
Autor: Autor: Paul Krugman Veículo The New York Review of Books Fonte: The New York Review of Books
Veículo: http://www.nybooks.com/articles/archives/2014/may/08/thomas-piketty-new-gilded-age/
Fonte: The New York Review of Books
Autor: Autor: Darlan Alvarenga
Veículo: Portal G.1 TV Globo - Economia
Fonte:
Autor: Paul Mason,
Veículo: O artigo abaixo foi publicado no site unisinos
Fonte: Site Unisinos
Autor: Fernando Nogueira da Costa
Veículo: Charles Platiau/Reuters http://www55.zippyshare.com/v/89834754/file.html
Fonte: Capital in the Twenty-First Century – Thomas Piketty (tradução de Arthur Goldhammer)(2014):
Autor: A reportagem é de Andrew Hussey, . A tradução é de Isaque GomesCorrea.
Veículo: Jornal The Observer, 13-04-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Fonte: NOTÍCIAS » Notícias
Em novembro de 2014 comprei O Capital no Seculo XXI de tanto ler referencias sobre o autor e sua obra,
(1) “Piketty transformou nosso discurso econômico; jamais voltaremos a falar sobre renda e desigualdade da mesma maneira.” Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia), The New York Times.
(2) “Piketty escreve com a elegância com que a atriz Gwyneth Paltrow se veste.
(3) O capital no século XXI é um monumento de pesquisa e elegância.” Elio Gaspari, Folha de S.Paulo e O Globo.
(4) Concordo com as principais conclusões de Piketty. Espero que seu trabalho estimule mais pessoas competentes a estudar a desigualdade de riqueza e de renda. Quanto mais entendermos das causas e curas, melhor.” Bill Gates,
(5) “O rock star da economia. O capital no século XXI é uma sensação editorial.” The Guardian
(6) “Maior do que Marx. Nenhum outro trabalho sólido sobre economia chegou tão perto de ganhar a condição de ícone pop.” The Economist.
Longe de ser uma unanimidade, há depoimentos contraditórios na aba - mídia
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