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Traduzido por: Livro Editado em Português do Brasil
Páginas: 216
Ano de edição: 2016
Peso: 260 g
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São quase cinquenta contos e crônicas de pura ficção, tragédias do dia-a-dia, lendas urbanas, delicadas bahianices, inocentes bahianadas, humor por vezes bastante simplório – tudo tão doce e gostoso como brevidades.
Era domingo, 29 de abril de 2012. Quando Rafael Donato marcou o gol da vitória aos 44 minutos do segundo tempo, todo o mundo teve a certeza de que Deus era tricolor. Inclusive Moema, que pulou da cadeira e saiu correndo e gritando pela sala feito uma desvairada.
Começou a subir e descer a escada que dava para o segundo andar, como sempre fazia ao assistir ao jogo em casa. Ninguém nem viu que tropeçou; somente quando os foguetes lá fora já silenciavam foi que Omar se deu conta da noiva estendida sobre os degraus mais baixos:
- Moemaaaaaaaa!!!!!
Todos correram para acudi-la.
- Ninguém mexe nela! Ninguém mexe! Chama o SAMU!
Cidinha pegou o celular enquanto os outros, à volta de Moema, não se mexiam nem nela, falavam tudo ao mesmo tempo e não sabiam o que fazer. Omar se aproximou e cuidadosamente sentiu o pulso da futura esposa: nenhum sinal de vida da mais alegre torcedora que o Esporte Clube Bahia jamais conhecera.
A turma do trabalho chegou em peso ao velório na manhã seguinte, cada um trazendo em si o mesmo espanto. Todos balançavam a cabeça estupidamente, num esforço impossível de entender como era que uma moça de 28 anos, feliz, bonita, saudável; que não bebia, não fumava nem jogava a dinheiro; gente boa, de casamento marcado pra novembro, podia estar ali coberta de flores, com umas moscas filas da puta já sobrevoando o caixão?
Balila, melhor amiga e ex-futura madrinha de casório, permanecia em silêncio ao lado do rosto de Moema sem conseguir controlar os pensamentos, enquanto impedia que os insetos pousassem sobre a sua morta.
Falta de respeito, isso sim, mas é um bando de mosca, a gente pode exigir respeito? E quando os vermes todos estiverem comendo a carne dela, vão saber que deveriam passar fome em razão da qualidade de pessoa que ela era? Que nada! vão devorar a pobrezinha do mesmo modo como devoram um bicho ou tanta gente que não presta. Que nem devem ter passado o dente na santa Irmã Dulce, pra eles é tudo igual. Essa carne da gente não vale é de nada. Não importa se você foi bom ou ruim, acaba do mesmo jeito. Pelo menos nos cabelos dela eles não vão conseguir dar nem um taco: tem formol pra caralho, por conta da escova progressiva. Boa! Vão se fuder, rebanho de sacana!
Só não dou uma gargalhada aqui porque a galera vai achar que eu tô maluca. Mas toma, bactérias, bem-feito! Se fodam!!! Hehehehe
O compasso Largo do velório tornou-se Andante com chegada de Omar, trocando as pernas de tanto sedativo, amparado por dois de seus irmãos. Trazia uma bandeira do Esquadrão de Aço, com a qual cobriu o caixão. Sabia que Moema ficaria feliz por se saber abraçada pelo time do coração e demais vísceras.
Coração, pulmões, vesícula, a porra toda! - Balila pensava. - Acho que até o apêndice inflamável e dispensável dela era Baêa. Sabia tudo. Sabia que o autor do hino era Adroaldo Ribeiro Costa e que seu tabagismo convicto era a causa dos dedos amarelos. Estava a par de todos os detalhes, até de que dizem que Marcelo Guimarães Filho usa Kolene no cabelo. Não sei como as bactérias reagiriam a Kolene, mas as madeixas de Moema sei que vão se manter lindas e bem tratadas por toda a eternidade.
Hora de fechar o caixão, quando todos deitam os olhos pela última vez sobre o pálido clone de quem se despede, que por merecimento próprio ou o de queridos próximos conta agora com sua presença e homenagem.
No caminho para a sepultura, Balila fez questão de segurar uma das alças.
Deus devia estar distraído, comemorando o gol do Baêa, pra deixar que Moema caísse da escada e quebrasse o pescoço assim.
Porque Deus sempre protege a gente, é o dever dele como Pai. É fato.
Quando baixaram a amiga ao túmulo no caixão coberto pela bandeira azulvermelhobranco, Balila alarmou-se e berrou para todos os ouvidos:
- Ou será que Deus torce pra time de fora?!?!?!?
Como Moema, tinha uma raiva danada de baiano que não fosse Bahia, Vitória, Galícia, Ypiranga, Bahia de Feira, Colo-Colo ou algum outro da terra, tudo uma cambada de traidor.
Autor:
Veículo:
Fonte: Tribuna da Bahia
Autor:
Veículo: Blog Borim Bora
Fonte: http://borimbora.blog.br/2016/08/15/livro-de-contos-e-cronicas-marca-estreia-literaria-de-autora
Autor:
Veículo: SITE BAHIA NOTÍCIAS
Fonte: http://www.bahianoticias.com.br/cultura/coluna/4704-sociale-debut-nas-letras.html
Autor: Carolina Ferrari
Veículo: A Tarde
Fonte: http://atarde.uol.com.br/noticias/imprimir/1795249
Rafael por volta de agosto ou setembro de 2015 solicitou publicação no site Livronautas de um banner alusivo ao “crowdfunding” (campanha de financiamento) para juntar grana e assim contribuir com parte custos de edição e publicação do livro “Dor de Facão & Brevidades”.
O banner ficou “no ar” até dezembro. Nem sei se deu algum resultado. Acho que não. Qual não foi minha surpresa, agora no início de setembro 2016 recebo – com frete pago e tudo – um exemplar do livro, autografado pela autora, com a nota: “Para Márcio, com carinho e gratidão pela força. Roã, 07.09.2016”. Logo em seguida viajei ao Marrocos. Um dos pontos altos dessa viagem foi ler Dor de Facão em Marrakesh. Vou sugerir a autora fazer “crowdfunding” para custear hospedagem de leitores em Marrakesh. Tenho plena convicção que seu livro será imediato sucesso internacional.
Além de haver recebido o livro sem nenhum custo, a autora autorizou Livronautas publicar integralmente Dor de Facão & Brevidades no sistema “e-book”. Sorte de nossos leitores.
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