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Traduzido por: Livro Editado em Português do Brasil
Páginas: 537
Ano de edição: 1962
Peso: 890 g
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Esta jornada à terra do Egito e a Palestina permanecerá sempre como a glória superior da minha carreira; e bem desejaria que dela ficasse nas letras, para a posteridade, um monumento airoso e maciço. Mas hoje, escrevendo por motivos peculiarmente espirituais, pretendi que as páginas íntimas, em que relembro, se não assemelhassem a um Guia Pitoresco do Oriente. Por isso (apesar das solicitações da vaidade) suprimi neste manuscrito suculentas, resplandecentes narrativas de ruínas e costumes. Ao longo e ao fim desta magnífica história, publicada no velho e antigo Portugal no ano de 1887, talvez faça o leitor lembrar-se do tema moderníssimo do Isaac Asimov? Vale a leitura.
Em 1875, nas vésperas de Santo Antônio, uma desilusão de incomparável amargura abalou o meu ser; por esse tempo minha tia, D. Patrocínio das Neves, mandou-me do Campo de Santana, onde morávamos, em romagem a Jerusalém: dentro dessas santas muralhas, num dia abrasado do mês de Nizam, sendo Pôncio Pilatos procurador da Judéia, Élius Lama, Legado Imperial da Siria e J. Caifás, Sumo Pontífice, testemunhei, miraculosamente, escandalosos sucessos; depois voltei, e uma grande mudança se fez nos meus bens e na minha moral. Assim começa a história da Relíquia.
Havia certamente duas horas que assim dormia, denso e estirado no catre, quando me pareceu que uma claridade tremula, como a de uma tocha fumegante, penetrava na tenda, e atraves dela uma voz me chamava, lamentosa e dolente:
- Teodorico, Teodorico, ergue-te, e parte para Jerusalem!
Arrojei a manta, assustado: - e vi o doutissimo Topsius, que, a luz mortal de uma vela, bruxuleando sobre a mesa onde jaziam as garrafas de Champagne, afivelava no pé rapidamente uma velha espora de ferro. Era ele que me despertava, açodado, fervoroso:
- A pé, Teodorico, a pé! As éguas estao seladas!
Amanha é Pascoa! Ao alvorecer devemos chegar às portas de Jerusalem!
Arredando os cabelos, considerei com pasmo o sisudo, ponderado doutor:
- Oh Topsius! Pois nos partimos assim, bruscamente, sem os nossos alforjes, e deixando as tendas adormecidas, como quem foge espavorido?
O erudito homem alçou os seus óculos de ouro que resplandeciam com uma desusada, irresistivel intelectualidade.
Uma capa branca, que eu nunca lhe vira, envolvia-lhe a douta magreza em pregas graves e puras de toga latina: e lento, esguio, abrindo os braços, disse, com labios que pareciam clássicos e de marmore:
- D. Raposo! Esta aurora que vai nascer, e em pouco tocar os cimos do Hebron, é a de 15 do mes de Nizam; e não houve em toda a historia de Israel, desde que as tribos voltaram da Babilonia, nem haverá, até que Tito venha por o último cerco ao templo, um dia mais interessante! Eu preciso estar em Jerusalem para ver, viva e rumorejando, esta pagina do Evangelho! Vamos pois fazer a santa Pascoa a casa de Gamaliel, que é um amigo de Hilel, e um amigo meu, um conhecedor das letras gragas, patriota forte e membro do Sanedrim. Foi ele que disse: "para te livrares do tormento da dúvida, impõem-te uma autoridade."
Portanto, a pé, D.Raposo.
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Eça de Queiroz é autor que importa, por isso adquiri, de um vendedor porta-à-porta, a coleção Eça de Queiroz, em janeiro de 1962, quando já recebia salário do meu primeiro emprego em Brasília, no Banco Inco - Banco Industria e Comercio de Santa Catarina, agência da W-3 Sul, quadra 7, bloco B, loja 3, que anos depois se chamou quadra 507. Na época era comum comprar livros em prestações mensais, diretamente das editoras, através de vendedores domiciliares. A coleção, comprada e paga em prestações mensais se compunha de O Primo Basilio, O Conde de Abrantes, Alves & Cia, A Cidade e as Serras, Os Maias, A relíquia, A Capital e o Crime do Padre Amaro
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