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Autor: Erik L. Jennings Simões
Traduzido por: Livro Editado em Português do Brasil
Páginas: 153
Ano de edição: 2015
Peso: 150 g
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São 23 crônicas de fatos vividos ou testemunhados pelo próprio autor, baseados nas experiências práticas da medicina, no interior do Estado do Pará e na cidade de Santarém.
Naufrágio deum autista
Adriano Sena é uma criança portadora de autismo. Apesar dos seus treze anos de idade, com 65 quilos e quase 1,70 metros de altura, ele tem uma linguagem limitada de
palavras e de difícil compreensão. Não brinca com outras crianças e quase não demonstra nenhum afeto pelas pessoas. Vive em seu mundo, na maioria do tempo sozinho,
olhando para o vazio e fazendo gestos repetidos com as mãos, como se fosse um ritual. Sua mãe, Joana, uma senhora de aproximadamente 40 anos de idade,
sempre foi muito dedicada ao filho. A união entre Joana e Adriano é de um amor e apego sem igual, demonstrada somente por sua mãe.
Os dois são inseparáveis. As dificuldades impostas pelo autismo e a necessidade de cuidados intensos e prolongados criou uma dependência de Adriano pela sua mãe e também de Joana pelo filho.
Joana e Adriano voltavam para Santarém, depois de uns dias de férias em uma cidade próxima. Viajavam a bordo de um grande barco regional com dezenas de outras pessoas. A embarcação subia o rio Amazonas em direção a Santarém, ainda na escuridão da madrugada, quando bateu em um banco de areia e começou a afundar. Os gritos desesperados das pessoas e a água fria acordaram Joana que no mesmo instante já estava sendo levada pela força da água para o fundo do rio, sem Adriano.
A tragédia de um naufrágio tinha separado os dois.
Com um grande esforço a procura do filho conseguiu vir à tona e pegar um pouco mais de ar.
Queria gritar pelo nome de Adriano, mas não tinha mais forças e não conseguia ver nada.
O dia ainda não tinha amanhecido.
Ela ouvia alguns gritos de socorro e em alguns momentos sentia mãos desesperadas de pessoas que afundavam tocando em seu corpo.
Tentava se manter viva lutando contra a correnteza do rio Amazonas e o cansaço que agora era insuportável e a fazia afundar mais uma vez.
A agonia maior que Joana sentia era a de não poder ajudar o filho autista, que não sabia nadar e até para falar tinha dificuldades.
Joana engolia cada vez mais água, afundava nas águas barrentas já paralisada pela falta de ar.
Só o que a mantinha viva era a lembrança do filho.
Juntando as últimas forças, ela veio novamente à tona, quando de repente, ouviu uma voz familiar bem ao seu lado que dizia: 'mãe, segura aqui!'.
Com os primeiros raios de sol da manhã, Joana reconheceu a voz do filho e viu Adriano agarrado em cima de sacos de garrafas vazias e com uma das mãos estendida na sua direção.
“Segura aqui, mãe!” – repetia Adriano.
Joana juntou o que restava das forças que já não existiam e nadou em direção ao filho.
Segurou firme nas sacolas de garrafas vazias e no garoto e respirou para se manter viva.
O dia foi amanhecendo e os dois foram sendo levados pela correnteza para a margem do rio.
Já em terra firme, salvos do terrível naufrágio, Adriano continuava em seu mundo.
Fazia gestos repetidos com as mãos e parecia alheio ao sofrimento de outros náufragos que estavam sendo resgatados para a margem.
Só Joana chorava pela alegria de ver o filho vivo e por compreender que estava viva graças ao cuidado de quem sempre cuidou.
Nota: O barco "Almirante Barroso" partiu de Monte Dourado com destino a Santarém. Naufragou no dia 21 de dezembro de 2009
com mais de 100 passageiros a bordo. Quatorze pessoas morreram e uma desapareceu.
Nenhuma informação foi cadastrada até o momento.
Em abril de 2018 estive em Santarém, no Estado do Pará.
Santarém fica às margens do Rio Tapajós.
Numa antiga livraria da cidade encontrei muitos livros de autores locais e trouxe “Paradô” entre muitos outros, para enriquecer o acervo de Livronautas com autores lá do norte do Brasil.
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