O Zuza abalara de feito numa sexta-feira, dias depois do casamento da Lídia. Por toda parte se comentava, com risinhos sublinhados, o escandaloso namoro com a normalista, e o pai, o coronel Souza Nunes, escrupuloso em tudo que lhe dizia respeito, exigiu do filho que embarcasse no primeiro vapor, sob penas severas. - Mas, meu pai... - Tenha santa paciência, vocemecê embarca ou diz porque não embarca. Fala-se em toda a cidade nos seus namoros com a rapariga e eu não quero, não consinto em semelhante escândalo. Sei muito bem o que isso é. Não pode ser boa mãe de família uma rapariga educada em companhia de um safardana reconhecido, como o tal Sr. João da Mata. Prepare as malas e deixe-se de histórias, que é perder tempo. Nestas condições o estudante não teve jeito senão resignar-se ante a vontade imperiosa do pai e anunciar ao José Pereira o seu embarque d'aí a dois dias. - De acordo, aprovou o redactor da Província. Deves tratar quanto antes da tua formatura e então podes voltar ao Ceará e fazer um figurão na nossa magistratura, que já conta em seu seio bons talentos, rapazes da tua estatura, inteligentes e resolutos. Sentia muito que o Zuza não se demorasse mais algum tempo, mas, enfim, como esperava em breve tornar a vê-lo formadinho, com o seu título de bacharel, "dando sorte" na capital cearense, que diabo! Era preciso abafar a saudade e consolar-se. O Zuza, porém, estava contrariado. Agora que as cousas corriam-lhe tão bem, que a rapariga entregava-se-lhe de corpo e alma, é que o obrigavam a embarcar da noite para o dia, sem ao menos ter tempo de despedir-se d'ela, de dar-lhe uma beijoca, um abracinho sequer, às escondidas. É verdade que o seu amor não era lá para que se dissesse um amor extraordinário, uma dessas paixões incendiárias que decidem do futuro de um cristão, mas, tinha a sua simpatia por aqueles olhinhos ternos como os de uma santa, lá isso tinha... Tão boas as palestras ao meio-dia, na Escola Normal, enquanto as outras normalistas divertiam-se lá para dentro, à espera dos professores! Uma gentinha levada da breca, essas normalistas! Com que facilidade a Maria do Carmo, aliás, uma das mais comportadas, entregava-lhe a face para beijar e escrevia-lhe cartinhas perfumadas, cheias de juras e protestos de amor! Se fosse outro, até já podia ter feito uma asneira... Arrependia-se agora de não ter aproveitado os melhores momentos... Grandíssimo calouro! Podia ter desfructado a valer. E concluiu, preparando-se para sair: - Ora sabem que mais? Há males que vêm para bem. A cidade está cheia do meu nome e do nome da rapariga, o verdadeiro é ir-me embora mesmo, sem dar satisfação a ninguém. Meu pai é um homem de juízo Eu podia muito bem engraçar-me deveras com a menina para casar e depois... Sabe Deus as consequências. Já se foi o tempo de um homem sacrificar posição e futuro por uma mulher pobre. Concluo o meu curso e sigo para a Europa, é o verdadeiro, ora adeus! Enfiou a manga do redingote, atabalhoado, e saiu a despedir-se dos amigos. Toda a cidade soube logo da viagem intempestiva do estudante. A noticia propalou-se com a rapidez de fogo em palha por todos os botequins, por todos os cafés e restaurantes, avolumando-se, como se tratasse de um grande acontecimento. Quem, o Zuza, o filho do coronel Souza Nunes? Então não se casava com a normalista? - Por esta já esperava eu, diziam uns convictamente. - E eu, repetiam outros. - Pela cara se conhece quem tem lombrigas, seu Sussuarana, afirmava um sujeito reles na botica do Travassos. Aquele tipo sempre me pareceu uma bisca. Agora a pobre rapariga é quem fica por aí com cara de besta, sem achar quem lhe roa os ossos. - Pode dizer, seu compadre. Esses fidalgos o que querem é isso mesmo - desfructar e pôr-se ao fresco. Todo o nosso mal é recebermos em nossas casas qualquer sunga-nenen que chegue a esta terra. Nós, os pais de família, é que somos os culpados. |
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