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Traduzido por: Livro Editado em Português do Brasil
Páginas: 366
Ano de edição: 1979
Peso: 385 g
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Saramago recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1998. Suas obras foram publicadas em 26 países, incluindo o Brasil. A história do Levantado do Chão, começa não com uma simples frase, mas com poema de efeito, próprio de quem é escritor maior: ..."O que mais há na terra, é paisagem..." É uma história comprida, de pessoas que se levantam do chão, aliás como o autor foi considerado - até por ele mesmo - ao receber o nobel de literatura: Levantado do Chão. O romance, no estilo cru, aberto, sem limites, com normas de pontuação que refletem o contar de Saramago, narra a saga da família Mau-Tempo, que descreve a relação do português com a terra. Eles são testemunhas e do inicio da República, da Primeira Guerra Mundial, da Guerra da Espanha e a nova independência de Portugal, com a revolução dos cravos em 25 de Abril de 1974. João, o patriarca, tem muita consciência de que é explorado em seu trabalho de lavrador. Mas ele é resistente à política dos donos da terra, dos latifundiários e se nega a comercializar sua produção por preços miseráveis que o falso mercado impõe. Levantado do Chão é daqueles romances onde o leitor viaja com o autor, através do tempo e através dos personagens. Leitura demorada, mas, excelente.
Levantado do Chão narra a vida de três gerações de trabalhadores do Alentejo, passada entre o século XV e 1980. Domingos Mau-Tempo, seu filho João, seus netos Antônio e Gracinda, são os personagens principais da história. Eles levantam-se.
Antônio Mau-Tempo não andou muitos dias com os porcos. Deixou na obrigação Manuel Espada e foi aprender disciplinas que o outro já conhecia, por mais velho, e com treze anos viu-se a acompanhar os homens maduros a queimar rama, a cavar, em obra de açude, que é trabalho que demanda muito esforço e braço. Tão cedo como quinze anos foi que aprendeu a tirar cortiça, prenda preciosa em que veio a suir mestre, como tudo em que se metia, sem vaidade. Muito novo abandonou as vistas do pai e da mãe e andou por lugares onde o avô deixara as suas marcas e algumas más lembranças. Porém, tão diferente era do antepassado que ninguém juntou o apelido de um e o apelido do outro para fazer a mesma família. Puxava-o muito o lado do mar, descobriu as margens do Sado e aventurou-se, que não era pequena viagem, toda feita a pé, só para ganhar uns tostões de acréscimo que em Monte Lavre se regateavam. E um dia, muito mais tarde, cada coisa em seu tempo, irá a França trocar anos de vida por moeda forte. O latifúndio tem às vezes pausas, os dias são indiferentes ou assim parecem, que dia é hoje. É verdade que se morre e nasce como em épocas mais assinaladas, que a fome não se distingue na necessidade do estômago e o trabalho pesado em quase nada se aligeirou. As maiores mudanças dão-se pelo lado de fora, mais estradas e mais automóveis nelas, mais rádios e mais tempo a ouvi-los, entendê-los é outra habilidade, mais cervejas e mais gasosas, porém quando o homem se deita à noite, ou na sua própria cama, ou na palha do campo, a dor do corpo é a mesma, e muita sorte sua se não está em trabalho. De mulheres nem vale a pena falar, tão constante é o seu fado de parideiras e animais de carga. E, contudo, olhando nós este brejo que parece morto, só cegos de nascença ou por vontade própria não verão o frémito de água que do fundo vem subitamente à superfície, obra das tensões acumuladas no lodo, entre o fazer, desfazer e refazer químico, até ao rebentar do gás enfim liberto. Mas para o descobrir é preciso estar com atenção, não dizer, passando apenas, Nem vale a pena parar, vamos indo. Se por um tempo nos afastarmos, distraídos em paisagens diferentes e casos pitorescos, veremos, ao voltar, como tudo estava afinal mudando e não parecia. Assim há-de acontecer quando deixarmos António Mau-Tempo à sua vida e regressarmos ao fio da história começada, ainda que tudo isto sejam histórias de ouvir, até a do José Gato, para seu mal tão só dele e dos que o acompanhavam, como António Mau-Tempo é boa testemunha e certificador. Que isto não são eventos aborrecidos de Lampião brasileiro, conforme já ouvi contar, nem outros cá de mais perto, como foi o caso do João Brandão ou do José do Telhado, gente má ou gente errada, vá lá saber-se. Não quero eu dizer que no latifúndio não tenha havido pessoal de. Mau carácter, salteadores de estrada que por um nada deixavam o viajante morto e roubado, mas que eu tivesse conhecido, só o José Gato seguia esse ofício, ele - e os companheiros, quadrilha será mais bem dito, que eram, se me lembro, o Parrilhas, o Venta Rachada, o Ludgero, o Castelo, e outros que já se me varreram, um homem não pode guardar tudo. Que eu nem acho que fossem salteadores. Malteses, sim, será o nome justo. Se lhes dava para trabalhar, trabalhavam como qualquer outro, tão bem e tanto, não eram malandros, mas lá vinha o dia, era como se lhes desse o vento na cara, largavam a enxada ou a picareta, iam ao feitor ou ao encarregado pedir a paga dos dias, que a eles não se atrevia ninguém a ficar a dever, e sumiam-se. Com estes foi assim, até certa altura, cada um por si, homens sozinhos e calados, e então juntaram-se e formaram quadrilha. Quando os conheci, já o José Gato era o chefe, nem acredito que outro se abalançasse estando ele. O mais que roubavam, eram porcos, que nisso é a terra farta. Roubavam para comer, e também para vender, claro está, que um homem não se governa só com aquilo que come. Naquela altura tinham um barco fundeado no Sado, era ali o talho deles. Matavam os animais, e conservavam-nos na salgadeira, para as faltas. A propósito de salgadeira, há até um caso que vou contar, faltou-lhes uma vez o sal, estava-se nisto, como é que vai ser, como é que não vai ser, e o José Gato, que era homem s6 falador quando preciso, disse ao Parrilhas que fosse buscar sal às marinhas. Em geral, bastava dizer o José Gato, Faça-se isto, eram palavras de Deus Nosso Senhor, aparecia logo feito, mas daquela vez não sei que deu ao Parrilhas, disse que não ia.
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Exemplar, da coleção Mestres da Literatura Contemporânea, adquirido quando fomos à S.Paulo, por ocasião do casamento do Gustavo com Patrícia, em 31 julho de 98. Na porta de uma loja de bairro havia verdadeira montanha de livros, todos a R$ 5,00. Trouxemos um bocado de livros de "capa dura" na cor azul. Nesta oportunidade praticamos a mais legítima "cultura métrica", ou seja, quando se compra livro à metro, para enfeitar prateleira.
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