Marcio Mafra
23/12/2021 às 19:11
Brasília - DF
Fuga
RÉSTIAS DE LUAR PERMEAVAM A FLORESTA. AS SAMAMBAIAS ARQUEAVAM à altura do pescoço ao longo da velha trilha de lenhadores, encobrindo
galhos de amoras—silvestres, como lâminas de serrote em bainhas. Touceiras de Sumagre escuro. Troncos de bétulas e álamos, vagamente luminescentes.
NO alto, uma abertura pálida e estreita dividia o dossel da floresta, marcando o caminho deles com mais clareza do que qualquer coisa ao nível do chão.
om medo de ramos na trilha, ele mantinha os braços cruzados à frente do rosto, sem se preocupar com os espinhos das amoras rasgando sua roupa. De
vez em quando, parava e batia palmas, chamando os cachorros. Eles vinham, roçavam os focinhos e a boca na palma de sua mão e desapareciam de novo,
tão confiantes no escuro. Ele parou um pouco. Buscou―os com os olhos. Havia sombras sobre sombras por toda parte. Deu um passo à frente e começou
de novo. À sua volta, vagalumes brilhavam com ventres luminosos. As vozes que os chamavam haviam sumido havia muito sob o rangido dos troncos de
árvores movendo—se na brisa da noite como os mastros de um vasto navio.
Não andavam em círculo; ele não sabia como percebia. Pela direção do vento, talvez, ou pela sombra do luar voltada para oeste. Quando um bosque de
betulas reluziu, azul, onde ele esperava uma abertura, Edgar entendeu que o raminho havia acabado ou tinham se perdido.
Depois de algum tempo, encontrou os cães, reunidos, esperando. Contou os focinhos, depois movimentou as mãos no escuro, tentando entender
porque tinham parado. Seus dedos roçaram um arame farpado e enferrujado, e uma estaca de cerca rachada pelo tempo, Deslizou as mãos pela
madeira nodosa até localizar o arame mais baixo, depois foi se afastando da estaca, Curvou—se, acompanhando o arame farpado de leve com os dedos.
Parou onde havia folga suficiente para levantar o arame.